A vila dos aposentados
Fluminimaggiore, uma cidadezinha de 3.000 habitantes na Sardenha, sul da Itália, quer atrair aposentados do mundo todo. O projeto é um dos pilares da gestão do prefeito Marco Corrias, eleito na metade do ano passado. Aos 67 anos, casado, com um filho, Corrias teve uma longa e bem-sucedida carreira no jornalismo. Formado em ciência política pela Universidade de Urbino, começou como correspondente do jornal diário La Repubblica na Sardenha e chegou a ser correspondente da revista Epoca. Teve ainda um programa semanal na TV.
Curtia a aposentadoria desde 2012 até o começo do ano passado, quando resolveu concorrer ao cargo de prefeito de sua cidade natal. Disputando como independente, a partir de uma lista cívica, teve vitória consagradora.
Fluminimaggiore é habitada desde antes dos romanos. O casario espalhado pelas montanhas verdes de onde se vê o mar tem grafites elaborados e abrigam 3.000 habitantes em meio a grutas e a ruínas quase pré-históricas. O que falta é emprego para os jovens, que deixaram a cidade em massa desde que a mineração foi desativada.
Para combater a decadência, Corrias aposta num projeto chamado Happy Village.
Para a estreia desse blog, Marco Corrias respondeu a algumas perguntas por email. Segue a conversa:
Quando você se aposentou, imaginava fazer o quê? Me aposentei em 2012 e continuei escrevendo e fazendo reportagens em vídeo e escritas para o jornal La Repubblica e Sardinia Post. Um ano atrás, decidi concorrer a prefeito na cidade onde nasci e fui eleito em 10 de junho de 2018, numa lista cívica, com 62% dos votos. Nosso slogan era RipensiAmo Flumini (O trocadilho é uma mistura de repensar e amar em italiano).
O que o fez tentar ser prefeito de Fluminimaggiore? É a cidade onde nasci, onde todo mundo me conhece e embora eu tenha deixado há 20 anos para me formar pela Universidade de Urbino em ciência política, costumava voltar para cá sempre, onde tenho queridos amigos. Tenho uma linda casa à beira-mar e acho que este é um lugar bonito para se viver: montanhas, mar a 7 quilômetros, boa comida e uma rara tranquilidade. Sempre achei que o local precisava de mudanças reais e ideias revolucionárias. Como Happy Village, na verdade.
De onde veio a ideia? Foi num jantar com um amigo jornalista meu, Mario Palumbo, que morreu há dois anos. Ele era de Milão e foi subeditor de um importante jornal: Il Resto Del Carlino. Ele veio para Fluminimaggiore, onde construiu uma casa e chegou a viver um tempo. Quando perguntei a ele por que tinha decidido morar em Fluminimaggiore, ele respondeu: “Você não entende que este é um dos melhores lugares no mundo para viver.” Naquela noite, continuando a falar com Mario, surgiu a ideia de Happy Village.
Como atrair aposentados estrangeiros? Acredita que a oferta de uma casa e de trabalho para recuperá-la será suficiente? Digo porque Portugal oferece visto de residência e isenção fiscal por dez anos a quem levar para lá seus rendimentos de aposentado. Para os aposentados estrangeiros que esperam mais do que uma bela casa restaurada e bem decorada, haverá toda uma série de servidores, uma ao lado, cuidados de saúde 24 horas por dia, transporte dedicado, serviço de limpeza dia e noite, ausência de burocracia, o atendimento simpático da comunidade local organizada em associações, boa comida, sol, mar, natureza e o fato de que aqui não há crime: no ano passado houve apenas sete furtos, quatro dos quais entre meninos que tiveram seus celulares furtados em festas. O custo de vida aqui é mais baixo, comparado ao resto da Itália.
Quantas casas existem para esse projeto em Fluminimaggiore? Existem mais de duzentas casas vazias. Os proprietários que aceitem inscrevê-las na nossa cooperativa terão suas propriedades reformadas e adaptadas para receber aposentados. Poderão ser casas individuais, com dois ou no máximo três quartos. A Liga das Cooperativas apoia nosso projeto.
Aposentados brasileiros com dinheiro podem se inscrever no projeto? É claro que até os aposentados brasileiros poderão desfrutar de nossa hospitalidade: os sardos e os brasileiros são povos muito parecidos: felizes, amantes de coisas boas, do belo mar e da natureza.
Qual o prazo para o projeto ser implementado? O projeto não estará pronto antes de um ano e meio, mas estamos acelerando os tempos, porque há centenas de solicitações vindas de aposentados de toda a Itália e da Europa.
Se a Happy Village vai ou não sair do papel, só o tempo dirá. Mas Marco Corrias mostrou que é possível recomeçar a vida e encontrar um propósito depois de deixar o trabalho. Este é um dos alvos deste blog e de seu autor, vivendo agora entre Portugal e Brasil.