Professores da Unicamp querem criar cohousing, a ‘república’ de velhos

 

Na Universidade Estadual de Campinas, um grupo de professores e funcionários aposentados dedica-se, desde 2013, a criar um projeto de cohousing. Muito mais que um simples condomínio para idosos, a Vila Conviver é uma comunidade – e o principal projeto do professor Bento da Costa Carvalho Junior, 73 anos, coordenador do GT Moradia da Adunicamp.
Bento explica que são as dependências comuns que definem os projetos de cohousing, conceito que surgiu na Dinamarca no fim do século passado. A outra definição é etária – trata-se de uma iniciativa dirigida a quem tem mais de 50 anos e mira a velhice fora de seu apartamento ou de um casarão – quase sempre vazio.
A cohousing responde à redução do tamanho das famílias e ao aumento da longevidade. Bento acredita que as casas que ele e seus colegas construíram ou compraram, não sem sacrifício, quando jovens, deixam de fazer sentido hoje:
“São casas que foram construídas ou compradas pra uma época em que a gente tinha filhos, em que a gente precisava de espaço, tinha toda uma vida social e, à medida que você vai envelhecendo, essas casas se tornam muito grandes. Além de se tornarem grandes, elas se tornam perigosas, porque não foram construídas pensando no idoso. Então, a questão dos espaços, degraus e coisas assim, não são casas seguras. São casas que dão custo de manutenção elevado. E, chega uma idade, que não é nem mais o custo de manutenção pra quem tem o dinheiro, que é uma coisa pesada, mas é a questão de você ter gente pra fazer, ir atrás. As pessoas não querem mais isso. Então, a cohousing responde a essas três coisas.
Há outros benefícios: queda na incidência de demência senil e aumento da vida acima da média da população:
“As estatísticas do governo dinamarquês mostram o seguinte: que as pessoas vão menos a médico e tomam menos remédio. Então, elas têm muito mais qualidade de vida. A grande vantagem da cohousing é também você viver os anos após a aposentadoria no meio de pessoas que você conhece e respeita …. acaba formando grandes amizades e você tem uma vida muito mais rica do que viver isolado”.
A Vila Conviver busca 66 participantes para viver em 44 casas de 100m², cada uma delas correspondendo a duas cotas. Se a pessoa se satisfizer com menos espaço, compra apenas uma cota e fica com 50 metros quadrados. Há 30 nomes na fica de espera.
Economia não é a motivação principal: a cota para 50 metros quadrados custa 200 mil reais e a de cem metros, o dobro. Isso porque os participantes pagam também as áreas comuns, que são muitas: pista de caminhada, uma casa comunitária, onde ficará restaurante, cozinha, sala de estar, de jogos, de arte, etc. E até uma horta.
O terreno já foi encontrado – tem mais de 20 mil metros quadrados e fica em Barão Geraldo, perto da Unicamp. Em dois anos, esperam ter a comunidade implantada. 
Existem outros 15 projetos em desenvolvimento no Brasil. Um dos maiores problemas é o financiamento:
“Não há financiamento, por exemplo, do sistema financeiro da habitação, porque o financiamento está ligado a uma escritura individual, que não existe na nossa cohousing, mas a gente pode conseguir isso através de investidores individuais, né, que têm uma parte do seu capital que é destinada a doar projetos inovadores, entende, projetos com impacto social. Nós vamos buscar esse tipo de coisa.”