Alzheimer: cura continua distante, apesar dos avanços

 

Boas e más notícias envolvendo um dos maiores fantasmas que rondam o envelhecimento: o mal de Alzheimer. Comecemos pela boa – até mesmo atividades físicas leves, como lavar a louça, varrer a casa ou arrumar o quarto, podem ajudar a manter o cérebro jovem. Uma equipe internacional de pesquisadores acompanhou pelo menos três dias de dados de rastreadores de atividade de 2.354 adultos de meia-idade em Massachussets, nos EUA, juntamente com as imagens cerebrais dos participantes. Levando em conta fatores como sexo, tabagismo e idade, a equipe descobriu que cada hora de atividade física leve por dia está ligada a um volume cerebral maior em 0,22%, o equivalente ao que o cérebro perde durante um 1,1 ano, depois dos 60 anos de idade. Quem dá dez mil passos por dia – uma caminhada de sete quilômetros – tem um aumento do cérebro maior que os que dão cinco mil passos ou menos. A perda ou encolhimento do tecido cerebral estão ligados à demência. Os dados foram originalmente publicados no Jama Network Open, um site de informação científica reconhecido e de acesso aberto.

Ou seja: o estudo toma cuidado, cercando essas informações de alguns condicionantes, mas a conclusão é clara e pode ser traduzida assim, num blog generalista: vale se mexer, mesmo que você não queira ser um ás da ginástica ou um maratonista.

Revigorados, portanto, vamos às más notícias. Duas grandes empresas, a suiça Biogen e a japonesa Eisai abandonaram os testes que faziam em parceria com aducanumab, uma proteína especialmente desenhada para combater as placas que estão associadas à progressão do mal de Alzheimer. As ações da Biogen caíram 29 por cento, antes mesmo dos detalhes do estudo virem a público. O primeiro teste com uma abordagem semelhante havia fracassado há mais de dez anos, Grandes companhiar, como Eli Lilly e Pfizer desistiram do jogo, mas segundo uma pesquisa feita pela Translational Research and Clinical Intervention, em setembro de 2017, existiam 105 novos medicamentos sendo desenvolvidos contra o mal de Alzheimer. Mais da metade não focavam as tais placas que o aducanumab reduz.

Existem hoje mais de 44 milhões de pessoas em todo mundo com o mal de Alzheimer.Uma doença específica, identificada pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1907 e que só é efetivamente comprovada se e quando o cérebro do paciente for submetido a uma autópsia.

Há outros dados na fronteira de boas e más notícias. O médico Ricardo Nitrini, professor titular de Neurologia da Universidade de São Paulo e editor-chefe da revista Dementia & Neuropsychologia, que entrevistei para a série de documentários sobre velhice que estou produzindo no momento diz que há mais prevalência de demência no Brasil do que em países mais desenvolvidos por causa do nível de educação do povo. Nos Estados Unidos, as pesquisas avaliam pessoas com 16 anos de estudo em média, enquanto os brasileiros tem quatro anos de escolaridade em média:

“Os estudos neuropatológicos demostram que, para o mesmo grau de doença cerebral analisada no cérebro por microscópio, a demência é mais grave, ou aparece nos indivíduos de baixa escolaridade, antes do que nos indivíduos de alta escolaridade. Por que? Uma das hipóteses é a seguinte: o indivíduo de alta escolaridade tem um repertório de soluções para uma questão que o indivíduo de baixa escolaridade não tem. O indivíduo de baixa escolaridade, por exemplo, se lhe falta uma palavra, quando ele está conversando, é muito difícil que ele use sinônimos. Ele tem uma certa dificuldade, ele não tem um repertório. Estou dando um exemplo bem simples. Mas não é só para isso, para tudo que o indivíduo vai fazer, ele precisa ter estratégias para resolver – e quem estudou mais, tem mais alternativas. Os médicos muitas vezes escrevem para o paciente, coisas assim: ‘Tome esse comprimido uma hora antes do almoço. E duas horas depois do jantar’. E entrega para o paciente. Nós fizemos um teste: entregávamos um remédio com a prescrição onde estava escrito: ‘Tome um comprimido antes do almoço.’ Daí, perguntávamos: ‘Se você for almoçar ao meio dia, que horas você deve tomar o comprimido? E se você for jantar às 19 horas, que horas tomaria?’ E as pessoas se perdiam completamente, porque não eram capazes de ler”

Moral da história: educação é remédio… até para o mal de Alzheimer.