Um terço de idosos americanos são solitários; entre jovens ingleses, problema é ainda maior

Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos entrevistaram 2.051 adultos de 50 a 80 anos e constataram que pouco mais de um terço se sentiam solitários.

Na pesquisa patrocinada pela AARP – American Association of Retired People – mais de um terço dos participantes disseram sentir falta de companhia pelo menos em parte do tempo, enquanto 27% afirmaram que se sentem isolados às vezes ou muitas vezes.

O isolamento social custa 6,7 bilhões de dólares apenas entre os beneficiários do Medicare americano e também provoca problemas de saúde – 28% dos que se sentem isolados reclamaram de doenças, enquanto entre os sociáveis, esse percentual cai para 13%.

O fenômeno tem a ver com o que os especialistas chamam de Segunda Transição Demográfica – a primeira aconteceu com a Revolução Industrial – que está ocorrendo justo agora.

Enquanto em 1950, 20% dos casamentos terminavam em divórcio, a mesma taxa hoje, é de aproximadamente 40%. 

As mães solteiras, que eram apenas 5% em 1960, hoje dão à luz a quatro em cada dez crianças americanas.

Mais: atualmente 14% das americanas que ultrapassaram sua idade fértil nunca deram à luz o que faz com que a porcentagem de mulheres sem filhos tenha dobrado entre 1970 e meados dos anos 2000. 

Vale lembrar que menor fertilidade também se traduz em menos irmãos, tias, tios e primos – e portanto, em companhia e atenção para com os mais velhos.
Aos pesquisadores, as mulheres disseram ser mais propensas que os homens a sentirem falta de companhia – 36% contra 31%.

E, curiosamente, a solidão parece atingir mais fortemente as camadas menos idosas – quem tem entre 50 e 64 anos reclama mais dessa condição que o pessoal acima de 80. Entre os que moram sozinhos, 60% relataram sentir falta de companhia e 41% se sentiram isolados.

A solidão crônica pode afetar a memória, o bem-estar físico, a saúde mental e a expectativa de vida. Antes de avançar, vale registrar a definição de solidão para os especialistas.

Trata-se de uma situação vivida pelo indivíduo em que existe uma desagradável falta de determinados relacionamentos. Ou seja, envolve sempre a maneira pela qual a pessoa percebe, experimenta e avalia seu isolamento e a falta de comunicação com os outros.

Há indícios de que a solidão atinge muita gente em diversos países. Mas não é encarada da mesma maneira.

Na semana passada, a ministra do Esporte, da Sociedade Civil e da Solidão, a deputada conservadora Mims Davies, de 44 anos, lançou a campanha Let’s Talk Loneliness, em resposta ao que define como uma epidemia de solidão.

A ação se apóia em pesquisas recentes que, surpreendentemente, mostraram os mais jovens mais afetados do que os idosos por esse sentimento. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 75% disseram que sentem-se sozinhos, enquanto 63% dos maiores de 55 anos declararam que não se sentem sós jamais.

O governo britânico vai investir um milhão de libras esterlinas para premiar soluções tecnológicas para o problema do isolamento social.

O primeiro vídeo de animação da campanha, Less a Lonely Place, narrado por jovens de todo o Reino Unido, discutindo suas experiências pessoais de solidão, simplesmente não bombou: no Youtube, tinha apenas 709 visualizações até este dia 28.

O Brasil tem poucos estudos sobre o assunto e nenhuma política pública.

O trabalho mais conhecido foi resultado de uma parceria entre a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e a famacêutica Bayer, que em 2017, entrevistou duas mil pessoas acima dos 55 anos para traçar um perfil dos idosos.

Resultado: 37% dos entrevistados disseram que não pensavam sobre como iriam envelhecer e 54% não se sentiam velhos. Entre os respondentes, 27% imaginavam um futuro cercado de uma família grande, curtindo os netos e .29% temiam a solidão – o medo mais relevante entre os mencionados, acima do temor de dependerem das pessoas ou de terem alguma doença.