Pets robôs para idosos, no lugar de cães e gatos
Não é de hoje que pesquisas apontam as vantagens que idosos podem ter ao cuidarem de cães, gatos e outros animais de estimação. As primeiras pesquisas científicas comprovando os benefícios são de 1980. E a gigantesca indústria dos pets – estimada em 98,81 bilhões de dólares em 2022 – só reforça essa tendência. Mas a tecnologia está prestes a oferecer uma alternativa mais durável, barata e, ao que indicam os primeiros estudos, igualmente eficiente: pets robôs. Os estudantes de design e engenharia da Universidade de Cincinnati estão recriando os companheiros robóticos disponíveis no mercado, para torná-los mais parecidos com animais de verdade – com a vantagem de funcionarem também como vigilantes da condição física e mental de seus donos.
A pesquisa é coordenada por Claudia B. Rebola, professora associada e coordenadora de pós-graduação na Faculdade de Design, Arquitetura, Arte e Planejamento da Universidade de Cincinnati. Rebola tem a vantagem de ser especialista em envelhecimento e em 2017, enquanto trabalhava na Rhode Island School of Design, conseguiu um milhão de dólares de financiamento para um projeto chamado ARIES – em inglês, Inteligência Robótica para Apoio Acessível ao Idoso – numa parceria entre a Brown University, o Hospital Bustler e a Hasbro, um dos maiores fabricantes de brinquedos do mundo. O resultado do trabalho está no mercado desde 2015. São cães e gatos robóticos da Joy for All, que tem sons e movimentos e custam em torno de cem dólares cada (gatinhos um pouco mais baratos).
Agora, Rebola e os alunos de pós-graduação de design e engenharia buscam entender melhor o que desejam os prováveis donos desses bichinhos, com estudos-piloto e grupos de foco entre idosos e cuidadores.
Uma das primeiras consequências foi dar novo formato ao cão-robô, que parecia um bichinho de pelúcia e deve se assemelhar a um Yorkshire Terrier, uma raça muito popular nos EUA. O protótipo ainda custa caro demais, mas Rebola acredita que, no futuro, os interessados poderão encomendar raças e cores personalizadas. Segundo a assessoria de imprensa da Universidade, a nova linha de pets robôs terá um colar inteligente com várias funções. Os bichinhos artificiais detectarão situações de risco e em caso de queda, alertando a emergência ou o cuidador. Parentes também poderão se comunicar com os donos por meio dos pets, rastrear suas atividades e monitorar os sinais vitais, a partir de um simples abraço. Uma função de memória pode despertar o idoso, lembrar-lhe de tomar os remédios ou encontrar objetos perdidos.
Jeffrey D. Schlaudecker, médico de medicina geriátrica da Universidade de Cincinnati, vê as vantagens desses robôs para seus pacientes: “Um animal de estimação robótico que combina os benefícios do companheirismo com as oportunidades de monitoramento baseado em tecnologia para adultos mais velhos, especialmente aqueles com comprometimento cognitivo, é uma ideia com um enorme potencial. Pacientes afetados com distúrbios de memória podem realmente se beneficiar dos aspectos sensoriais de um animal de estimação robótico”.
Já há estudos que atestam a eficácia dos pets robôs. Em artigo publicado no International Journal of Older People Nursing, Rebecca Abbott, Noreen Orr, Paige McGill, Rebecca Whear, Alison Bethel, Ruth Garside, Ken Stein e Jo Thompson‐Coon resumiram as evidências acumuladas por 19 estudos envolvendo 900 pessoas, entre idosos, cuidadores e familiares. Os velhos que lidaram com cinco pets-robôs – dois gatos, um cachorro, um urso e um bebê-foca – apresentaram efeitos positivos da interação. Na maior parte das instituições de longa permanência, animais de verdade são proibidos. O problema é o custo desses bichinhos artificiais – o bebê-foca custa quase três mil dólares.
Por essas e outras, parece distante, ainda, o dia em que robôs substituirão cães e gatos de verdade, por mais que estes demandem cuidados, comida, treinamento e sejam incapazes de cumprir as tarefas de suas contrafações tecnológicas. Uma estimativa feita pela Euromonitor, uma companhia de marketing e pesquisa global sediada em Londres estima que o número de gatos de estimação em todo o mundo deve aumentar 22% até 2024, em comparação com 18% para cães.
Na chamada geração Millenium dos países mais desenvolvidos, parece ser uma tendência substituir filhos por pets. Um bom exemplo ocorre na sede da gigante digital Amazon, em Seattle. Trabalham ali 49 mil pessoas e os animais de estimação são permitidos. A estatística mais recente contabiliza sete mil cães registrados na portaria da Amazon, mil a mais que um ano antes.
Esses bichinhos tem à disposição uma creche e guloseimas grátis espalhados pelo saguão. A Amazon reage desse modo aos estudos que comprovam que locais de trabalho amigáveis para com os cães tem menor taxa de absenteísmo e maior produtividade entre seus empregados. Não é a única. Boeing e Microsot também toleram os pets.
Vale imaginar o que vai acontecer quando essa turma envelhecer.