Motoristas mais velhos causaram mais que o dobro de acidentes fatais no Japão

No Japão, o país com população mais velha do mundo, os motoristas a partir dos 75 anos causaram mais que o dobro de acidentes de trânsito fatais que o pessoal mais novo, em 2018. Os dados constam de um relatório oficial do governo divulgado no último dia 14 de junho. Foram 460 acidentes que resultaram em mortes, correspondendo a 8,2 acidentes fatais a cada cem mil motoristas acima dos 75 anos, ou 2,4 vezes mais que os óbitos provocados pelos japoneses ao volante com menos de 74 anos.

Para enfrentar o problema, o governo quer promover o uso de veículos com tecnologias de segurança avançadas, como sistemas automáticos de frenagem e desenvolver uma campanha que estimule os idosos possam viver mais facilmente sem dirigir.

Em estudo realizado pela European Safe Road Observatory em 2015, os motoristas mais velhos apresentaram a segunda maior taxa de fatalidade em todos os grupos etários. Mas os pesquisadores da ESRO concluíram que mais do que representarem um risco, estavam eles próprios em risco, por sua fragilidade e vulnerabilidade às lesões corporais e morte.

A segurança dos motoristas mais velhos é determinada por três fatores: limitações funcionais, maior vulnerabilidade física e a quilometragem que percorrem anualmente. Em geral, os motoristas que fazem menos quilometragem tem maiores taxas de acidente por quilômetro.

O estudo admite que os mais velhos adaptam seu comportamento ao volante às suas limitações e sugere medidas de infraestrutura que podem diminuir o número de acidentes, como o aumento da letra e a da refletividade das placas de trânsito, um maior contraste nas marcas de pavimento, melhoria nos cruzamentos e semáforos e nas saídas e entradas das auto-estradas.

Diversas pesquisas indicam que os motoristas mais velhos estão dispostos a considerar o uso de sistemas automáticos de segurança ou carros autônomos. Mas o trabalho da ERSO também apontou que tais sistemas ainda não estão preparados para atender especificamente às demandas desse segmento etário.

Na Universidade de Newcastle, a 450 quilômetros ao norte de Londres, na Inglaterra, os pesquisadores constataram que os carros autônomos ainda não representam uma resposta consistente ao fato de que idosos com reflexos mais lentos e problemas de visão podem ser motoristas menos eficientes. Os professores Phil Blythe e Shou Li analisaram o tempo que os motoristas mais velhos demoram para retomar o controle de um carro automatizado em diversas situações. Com um simulador de última geração, Blythe submeteu 76 voluntários de dois grupos etários diferentes (entre 20 e 35 e entre 60 e 81 anos) a retomar o controle de um veículo trafegando em três cenários – numa estrada, na cidade e sob mau tempo.

Depois de experimentar a condução automatizada por um curto período, os voluntários deveriam retomar o controle do automóvel e evitar um veículo parado numa rodovia, com mau tempo. Em todos os testes, os participantes começavam lendo em voz alta num Ipad, com os pés abertos e afastados do volante. O tempo para recuperar o controle foi registrado em três pontos. Embora os velhos fossem todos ativos, demoraram bem mais para controlar o carro.

Ao fim da experiência no simulador de direção, os pesquisadores perguntaram a opinião dos motoristas mais velhos sobre os veículos automatizados. A resposta foi positiva, embora tenham dito que gostariam de manter algum nível de controle sobre os carros e de receber informações ao longo do trajeto, como as fornecidas por um navegador. A equipe da Universidade de Newcastle está analisando as mudanças e melhorias que podem ser feitas nesse sentido.

O material de divulgação da pesquisa registra as opiniões de dois voluntários. Ex-juíza, 74 anos, Pat Wilkinson, acha interessante ver como a tecnologia está mudando, mas reconhece que não é fã dos carros autônomos: “Eu gosto de dirigir e acho que sentiria falta disso. Dirijo desde os 20 anos e espero continuar a fazer isso por muito tempo. Não acho que carros totalmente sem piloto se tornarão a norma, mas creio que a tecnologia vai estar mais presente e estudos como esse, que ajudam a tornar os carros o mais seguro possível são realmente importantes.”

Ian Fairclough, de 77 anos, acha que um carro ajuda os velhos a se manterem ativos, mas toma seus cuidados: “Passei no meu exame de direção aos 22 anos e estive no Exército durante 25 anos, conduzindo todo o tipo de veículos em todos os terrenos e climas. Agora eu evito o mau tempo, as manhãs, quando as estradas estão cheias e tarde da noitem quando está escuro. foi muito interessante participar deste estudo e ver como a tecnologia está se desenvolvendo e como os carros poderão ser dentro de alguns anos. É muito estranho ser passageiro em um minuto e o motorista no outro. Mas eu gosto do meu Toyota Yaris. É simples, claro e prático. Eu acho que talvez ele tenha muitos botões.”