Série da Netflix discute perspectivas e problemas da imortalidade

Uma tórrida cena de sexo entre um homem de 119 anos e uma mulher de 63. É o que se pode ver na nova atração da Netflix, Ad Vitam, uma produção francesa dirigida por Thomas Cailley, que apesar do sobrenome é francês. Mas que ninguém espere um show de rugas, pelancas e cabelos brancos. Na série de ficção científica, a humanidade superou a morte e o ancião tem pinta de galã maduro e a aparência de uns 50 no máximo.

A explicação é simples – e o motor dos seis episódios produzidos pela Arte France e pela Kelija, uma das subsidiárias da poderosa Lagardère Studios: nesse futuro próximo, a humanidade passa por processos de regeneração a partir dos 30 anos e torna-se imortal. O que traz problemas para o enredo – como o suicídio maciço de jovens – e a possibilidade de discutir temas e dilemas que o avanço da ciência estão colocando em nosso horizonte real.

Apesar de um ritmo meio lento, a série tem uma bela fotografia, uma trama instigante, bons atores e, principalmente, a vantagem de colocar em discussão questões relevantes, sobre as quais teremos de nos debruçar.

Esse enrosco filosófico vem embalado numa trama policial. O detetive Darius Asram, interpretado por Yvan Attal, busca o auxílio de Christa Novak (Garance Marillier) de 24 anos para descobrir quem está levando os jovens ao suicídio. Mas vale prestar atenção em outro personagem: uma água-viva gigante. Foi a partir dela que os cientistas da história desenvolveram a técnica de regeneração.

O bicho é inspirado num espécime real, a Turritopsis nutricula, que não morre de causas naturais. Ela realmente existe e foi descoberta em 1843 pelo zoólogo francês René-Primevère Lesson. Mas até recentemente parecia apenas mais uma entre quatro mil tipos de águas-vivas.

Há duas versões para a descoberta de sua surpreendente capacidade de driblar a morte. Na primeira, o protagonista é um estudante alemão de biologia marinha chamado Christian Sommer, que numa pesquisa doméstica se deu conta de que ela regredia ao estado inicial de desenvolvimento e reiniciava seu ciclo de vida, numa espécie de permanente rejuvenescimento.

Na outra, quem aparece é o pesquisador japonês Shin Kubota, hoje um dos maiores especialistas do mundo nesse anima, que teria encontrado um desses animais cheio de espinhos e ao retirá-los, notou que as feridas se curavam e a água-viva rejuvenescia. Entre 2009 e 2011 Kubota repetiu a experiência 12 vezes, sempre com os mesmos resultados. .
Não sabemos ao certo como isso acontece, mas já demos um nome para o processo – transdiferenciação celular, agora alvo de pesquisas genéticas. Um dia, quem sabe, quando os humanos forem capazes de replicar tal comportamento em sua própria espécie, as tórridas cenas de sexo como as da série Ad Vitam também deixem de ser ficção científica.