Moradias assistidas para idosos explodem nos EUA, mas falta regulação
Essa modalidade de moradia surgiu na Flórida, nos anos 70 do século passado, para o topo da pirâmide: casas ou apartamentos especialmente projetados para atender às demandas dos idosos. Foi um sucesso tamanho que nos últimos 20 anos, esses condomínios quase triplicaram e são hoje cerca de 30 mil projetos.
Os moradores geralmente têm seu próprio apartamento privado. Embora não haja o mesmo monitoramento médico disponível nos lares de idosos (as instituições de longa permanência), enfermeiros estão disponíveis por telefone ou e-mail 24 horas por dia. Há uma equipe treinada para fornecer outros serviços necessários e realizar as tarefas domésticas. Os lençóis são trocados, a roupa é lavada e a comida é preparada e servida como parte do aluguel básico e dos serviços incluídos.
Os serviços de vida assistida também podem incluir o acompanhamento da medicação, ajuda na hora do banho e das refeições, academia e salão de beleza. O serviço de supermercado também costuma estar disponível. Em condomínios menos caros, o espaço individual parece um quarto de hotel e existem áreas sociais comuns, como cozinha e sala de jantar central. O custo médio é de quatro mil dólares por mês por idoso.
É um negócio lucrativo: os investidores obtiveram retornos anuais de quase 15% nos últimos cinco anos – mais que hotéis, escritórios, varejo e apartamentos, informa a professora Geeta Anand, repórter aposentada em seu blog no The New York Times, citando dados do National Investment Center for Seniors Housing and Care.
A própria Geeta chegou a considerar a hipótese de colocar a mãe numa dessas casas. O pai dela morreu em 2017, depois de viver com Geeta por nove anos; a mãe, aos 83, vive em Nova York com a irmã dela. “Achamos que a vida assistida ofereceria melhor assistência a nossa mãe e aliviaria a pressão sobre minha irmã, que trabalha em período integral enquanto cria uma filha pequena. Infelizmente, descobri que não”. Geeta destaca a ironia: a vida assistida é excelente se você não precisar de muita assistência. A vida social, as instalações semelhantes a spa, as inúmeras atividades e os menus atrativos tornam a vida assistida a escolha certa para quem tem recursos financeiros e é saudável e ativo. Mas se o idoso tiver problemas para caminhar ou usar o banheiro, ou algum tipo de demência, esse tipo de instalação não dá as respostas com quem todos sonham.
A falta de regulamentação é parte do problema. O governo federal fiscaliza os lares de idosos e os classifica quanto à qualidade, mas não licencia ou supervisiona instalações de vida assistida – são os estados que estabelecem as regras mínimas. Lares de idosos devem ter diretores médicos, mas esse requisito não é obrigatório na vida assistida e as queixas contra essas instalações tem aumentado nos tribunais americanos.
Os governos tem diversos programas de financiamento para residências desse tipo, mas ainda há uma lacuna de oferta muito grande e será um desafio enorme atender ao crescimento da demanda, com a chegada maciça dos baby boomers à velhice – o mais jovem dos quase 70 milhões de baby boomers americanos tem 55 ano, enquanto o mais velho está com 74 anos.
Pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida estabeleceram 39 palavras-chave e esquadrinharam os sites de serviços de saúde de todos os estados americanos em busca da informação fornecida ao público sobre a vida assistida. Comparando os resultados atuais com os obtidos em situação semelhante em outro estudo de 2005, constataram que aumento expressivo na oferta de conteúdo relevante: os relatórios de inspeção de qualidade exigidos pelo governo, que só apareciam em 15% das páginas, hoje estão em 70% delas. Mas ainda há muito a fazer: apenas em dois estados encontraram a informação sobre o preço cobrado nessas moradias assistidas.
Outro problema apontado pelos pesquisadores foi que os sites não são lá muito amigáveis. Os itens básicos podem ser encontrados facilmente, mas os detalhes sobre as residências individuais demandam uma pesquisa extensa. Em certos casos, não fica claro nem mesmo qual agência estatal supervisiona a vida assistida.