Nova Zelândia discute ‘ilhas de isolamento’ para vulneráveis ao coronavírus

Radical na abordagem da pandemia, a Nova Zelândia espera vir a ser uma das poucas nações do mundo a passar por essa fase sem maiores traumas.Mas eEmbora tenha apenas cinco milhões de habitantes, 868 infectados e uma morte causada pelo novo coronavírus, o país já discute um plano B para seus idosos e vulneráveis, caso as medidas adotadas pelo governo não sejam suficientes. Eles já adotaram o controle de fronteira, fizeram quase 30 mil testes e implantaram um bloqueio nacional de quatro semanas que já está no nono dia.

Trabalhando em casa, a primeira-ministra social-democrata Jacinda Ardern, 39 anos usa sua página no Facebook, para despachar “lives” encorajadoras e intimistas: tem pedido aos neozelandeses que fiquem em casa para salvar vidas e costuma descrever seu dia e as dificuldades do home office, além de revelar as dificuldades de treinar a filha de menos de dois anos a usar o vaso sanitário, por exemplo.

Entre os especialistas, o que se discute agora é a possibilidade do país criar “refúgios seguros” isolados para proteger idosos e vulneráveis. No editorial do The New Zealand Medical Journal desta sexta-feira, 3 de abril, um grupo de pesquisadores da Universidade de Otago aponta na direção de um programa de “porto seguro”, a ser implantado de região para região, se o problema persistir. Seriam ilhas isoladas dentro de comunidades, para onde as pessoas vulneráveis seriam realocadas, até a chegada da vacina.

Algo semelhante foi utilizado durante a epidemia de Sars no Canadá – locais onde funcionários de hospitais conviviam com pessoas vulneráveis, para não transmitir a infecção de volta às suas famílias.

Nick Wilson, professor de saúde pública e membro do grupo lembra o caráter desse tipo de ação: “Essa abordagem também teria que ser totalmente voluntária, porque as pessoas teriam que permanecer nessas ilhas por algumas semanas ou meses até que a eliminação fosse alcançada ou que a pandemia terminasse. Essas são idéias que valem a pena explorar, porque é uma doença muito diferente para diferentes faixas etárias”.

Wilson e seus colegas fizeram as contas e concluíram que o risco de morte para pessoas infectadas com mais de 80 anos é cerca de 250 vezes maior do que para pessoas na casa dos 20 anos – e 23 vezes maior entre pessoas com mais de 60 anos.

Eles também apontaram o impacto de bloqueios contínuos nos trabalhadores mais jovens e na economia em geral, observando como as taxas de desemprego nos EUA poderiam saltar de 3,5% para entre 10,5 e 40% como resultado do choque.

“Outro trabalho que fizemos mostrou que você pode economizar cerca da metade do número de mortes no Covid-19 se você se concentrar em proteger os idosos, junto com pessoas que têm condições crônicas”.

Michael Baker, epidemiologista da Universidade de Otago, disse que especialistas lançaram a estratégia em fevereiro, quando temiam que fosse impossível para a Nova Zelândia eliminar o Covid-19.

Os cientistas não criticam a decisão do governo da Nova Zelândia de adotar a quarentena. Apontam qual seria o caminho de saída, que incluiria esses locais de isolamento dos vulneráveis. “Sob essas circunstâncias, o ‘bloqueio’ pode ser gradualmente relaxado, potencialmente em uma base regional”.

A presença da primeira-ministra nas redes sociais é elogiada, inclusive, pelo seu antecessor, John Key, que é também líder do partido de oposição: “Penso que ela comunica muito bem e de forma muito clara”, afirmou num programa de rádio.