Coronavírus avança sobre lares de idosos sem resposta efetiva dos governos
Apesar da precariedade estatística, informações de vários países confirmam: o ovo coronavírus está fazendo um enorme estrago entre idosos residentes em instituições de longa permanência. E em nenhum país a reação oficial tem sido capaz de barrar o avanço dos óbitos.
Na Itália, estima-se que 1.443 das 3.859 mortes registradas do início de fevereiro até oito de março possam ter sido causadas pelo vírus. O Instituto Superiore di Sanitá enviou questionários para 2.166 lares de idosos. Responderam às perguntas apenas 24% ou 577 instituições.
Entre 26 de março e seis de abril, morreram 3.859 idosos internos nessas unidades. A maior parte – 1.822 na Lombardia, que tem a maior concentração de instituições de longa permanência para idoso (677). Outros 760 óbitos ocorreram no Vêneto, onde essas unidades são 521. A taxa de mortalidade entre os residentes, considerando as mortes relacionadas ao Covid-19, é de 3,1% em nível nacional, mas sobe para 6,8% na Lombardia. Entre os falecidos, 133 testaram positivo e 1.310 apresentaram sintomas semelhantes aos da gripe. 37,4% das mortes tiveram sintomas Covid-19.
Na França, onde 750 mil idosos vivem em cerca de 7.200 estabelecimentos, até o dia nove de abril os centros de saúde registravam 3.237 mortes entre esse grupo – e a estimativa é que de haja ainda mais, dada a demora de informar os óbitos.
Na Alemanha, até o dia 8 de abril, eram 316 os infectados em casas de repousos. Em pelo menos 53 instituições, o vírus estava descontrolado, de acordo com as autoridades sanitárias. Eram 79 mortos eram na Renânia do Norte-Vestfália, 26 em Baden-Württemberg, 22 na Baixa Saxônia, 16 na Baviera, três em Hamburgo e outros três em Schleswig-Holstein.
Na Espanha, a RTVE, a emissora pública de TV, admitiu que é impossível saber o número de mortes que o coronavírus deixou nos lares de idosos por falta de testes. Baseados em informações fornecidas pelas comunidades autônomas, os jornalistas estimam que as mortes somem pelo Covid-19 ou com sintomas semelhantes excedam as 9.500, a maioria em Madri, Catalunha e Castela e Leão, representando 42% do total notificado pelo Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde espanhol começou a distribuir milhares de testes rápidos para as diferentes regiões autônomas, para que eles possam começar a realizar os testes em locais sensíveis, como residências e centros de saúde. Entretanto, só são contabilizados os idosos que morreram após o teste positivo como vítimas de coronavírus. Os que não foram testados não entram na estatística.
Para complicar ainda mais, cada comunidade autônoma oferece os dados de maneira diferente e nem sempre precisa. O governo central concedeu até 8 de março para que as comunidades oferecer dados detalhados sobre o número de mortes por coronavírus em ILPs e idosos infectados, mas ainda não publicou os resultados.
A Procuradoria Geral da República abriu um processo para investigar a situação dos lares de idosos depois que a ministra da Defesa, Margarita Robles, informou que o Exército encontrara o corpo de idosos falecidos em alguns centros, mas os casos foram encaminhados aos promotores regionais.
Cerca de 433.000 britânicos vivem nas 11.000 instituições de longa permanência. Somadas, elas possuem 450.000 leitos – três vezes mais que o Serviço Nacional de Saúde. Nas últimas semanas, milhares de casas de repouso em toda a Grã-Bretanha foram fechadas por causa da pandemia.
Dados de terça-feira, 7 de abril informavam que em Portugal, cerca de 15% das vítimas mortais eram idosos que viviam em lares. Segundo o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, havia 61 mortes e 800 trabalhadores desses estabelecimentos em quarentena.
Em Los Angeles, nos Estados Unidos, Barbara Ferrer, diretora de saúde pública do condado sugeriu às famílias que retirem seus parentes mais velhos das instituições de longa permanência para sua segurança. Das 173 mortes no condado de Los Angeles na terça-feira, 36 eram residentes de enfermagem especializada e instalações de vida assistida, disse Ferrer. Isso representa mais de 20% de todas as mortes no município até agora. A diretora de saúde pública do condado de Los Angeles que ofereceu o conselho, disse que algumas famílias podem cuidar de um ente querido agora porque muitas pessoas estão trabalhando em casa, mas reconheceu a “escolha horrível” enfrentada pelas famílias que não podem cuidar de seus entes queridos em casa.