Nem ventiladores conseguem salvar mais de um terço dos doentes idosos graves com coronavírus

Um estudo detalhado publicado na revista Lancet desta semana é um balde de água fria para quem ainda relativiza o impacto do coronavírus sobre os idosos. Em Nova Iorque, mais de 40 mil pacientes foram internados por causa do coronavírus, entre 2 de março e primeiro de abril. Destes, 1.150 foram admitidos em dois hospitais ligados à Universidade de Columbia. E entre eles, 257 estavam gravemente enfermos e eram idosos, com idade média de 63 anos.
Todos foram colocados em ventiladores, mas segundo o estudo liderado pelo pneumologista Max O’Donnell, da Columbia University Irving Medical Center 39% morreram e outros 37% continuavam hospitalizados nos hospitais de Milstein e Allen.

“Não tínhamos ideia de como isso seria horrível”, disse O’Donnel. “Definitivamente não apenas uma gripe.”
Essa elevada taxa de mortalidade coincide com outros resultados obtidos na China e na Europa, confirmando assim que a idade é o maior fator de risco perante a covid-19, principalmente quando acompanhada por doenças crônicas relativamente comuns nessa faixa etária, como hipertensão, diabetes, obesidade e problemas cardíacos.

Nos hospitais analisados, não se registrou nenhuma morte abaixo dos 30 anos e apenas uma pequena parcela desse grupo foi parar nos ventiladores, ao passo que mais de 80% das pessoas com mais de 80 anos que usaram um ventilador não sobreviveram.

Thomaw McGinn, subchefe clínico da Northwell Health acrescentou outro dado preocupante: a taxa de mortalidade para pacientes que recorrem aos ventiladores aumenta até 70% quando eles têm mais de 70 anos. Os números coletados em outros hospitais norte-americanos são menos assustadores. Na Emory Healthcare em Atlanta, capital do estado da Georgia, 40% dos pacientes gravemente enfermos conseguiram alta, enquanto 29,7% morreram, informou o médico intensivista Craig M. Coopersmith, para quem estar no ventilador não é uma sentença de morte.

Morar perto de um epicentro, ser parte de um grupo de risco e lidar com problemas de relacionamento durante a quarentena resultam num grande declínio do bem-estar, segundo outro estudo publicado na revista Psychiatry Research por Haiyang Yang, da Universidade John Hopkins e por Jingjing Ma, da Universidade de Pequim.
Yang, professor da Carey Business School da Universidade John Hopkins, ressalta que as pessoas que se consideravam conhecedoras do vírus – uma condição subjetiva e pouco precisa – costumam ter um grau maior de felicidade durante o surto do que aqueles que não se consideravam informados sobre a covid-19.

“A percepção das pessoas sobre si mesmas é muitas vezes mais potente em influenciar seu bem-estar emocional do que os aspectos objetivos correspondentes”, diz Yang. “Precisamos de políticas, programas e intervenções específicos para ajudar a promover relacionamentos familiares positivos durante um longo bloqueio. Além disso, esforços que aumentam a compreensão das pessoas sobre como prevenir efetivamente a infecção podem ajudar a aumentar seu senso de controle e, consequentemente, sua saúde psicológica.”