Homens mais velhos temem menos o coronavírus, conclui estudo norte-americano
Uma pesquisa publicada na última edição do The Journals of Gerontology indica que homens mais velhos têm mais dificuldade de perceber os riscos do coronavírus. Como já constatado em outros estudos, eles se mostram menos preocupados com a morte e exibem no dia-a-dia menos emoções negativas. Se isso pode ser uma vantagem no caso de desastres naturais ou ataques terroristas, é uma encrenca diante da Covid-19, em que são justamente os idosos do sexo masculino os mais afetados.
A doutora Sarah Barber, pesquisadora de gerontologia e psicologia da Georgia State University, e uma das autoras do estudo, conclui: “Em circunstâncias normais, não se preocupar tanto é uma coisa boa. A vida cotidiana provavelmente é mais feliz se nos preocuparmos menos. No entanto, no caso da Covid-19, quantidades menores de preocupação não deveriam se traduzir em mudanças no comportamento protetor.”
A preocupação, lembra a doutora Barber, é um motivador essencial para as mudanças na saúde comportamental e está por trás da adoção de medidas preventivas como alimentação saudável, exercícios frequentes e exames regulares. De modo geral, isso diminui com a idade e costuma ser menor entre homens do que entre mulheres.
Essa foi a premissa da pesquisa online conduzida entre 23 e 31 de março de 2020, entre pessoas com ensino superior, moradoras dos Estados Unidos e principalmente de origem caucasiana. Foram entrevistados 146 adultos mais jovens, entre 18 e 35 anos e 156 mais velhos entre 65 e 81 anos.
O questionário avaliava as mudanças comportamentais que podem reduzir o risco de infecção, como lavar as mãos com frequência, usar máscara, evitar socializar, evitar locais públicos, observar quarentena completa ou adotar uma dieta equilibrada e comprar alimentos ou medicamentos extras.
A maioria dos participantes estava pelo menos moderadamente preocupada com a pandemia. Mais de 80% relataram lavar as mãos com mais frequência, cuidar mais da limpeza, não apertar mais as mãos e evitar locais públicos. Mais de 60% relataram não ter mais convívio com os outros. Aqueles mais preocupados com a Covod-19 também foram os que mais provavelmente implementaram essas mudanças de comportamento.
Os homens mais velhos estavam menos preocupados com a Covid-19 e adotaram o menor número de mudanças em seus comportamentos. São menos propensos a usar uma máscara, a parar de tocar em seus rostos ou a comprar comida extra.
Os dados evidenciam a diferença de preocupação entre homens jovens e velhos: numa pontuação ponderada das respostas numa escala de um a sete, em que a nota 1 corresponde a discordo fortemente e a nota 7 quer dizer que o entrevistado concorda fortemente, os mais novos receberam nota 3,0 diante da questão que buscava medir o temor deles diante da possibilidade de morrer da Covid-19, enquanto os mais velhos tiveram 2,3, por exemplo. Numa escala de temor, os mais novos ficaram com 3,6, e os mais velhos com 3,0.
Em resumo, justamente o grupo de maior risco parece encarar menos seriamente a ameaça da pandemia.
Os pesquisadores acreditam que se os homens mais velhos tiverem mais informação e orientação sobre o vírus, podem adotar comportamentos de proteção, mesmo que não se sintam preocupados.
De qualquer forma, disse a doutora Barber, esse pessoal pode precisar de um pouco de treinamento extra e atenção à avaliação de riscos e comportamentos de proteção, tanto de membros da família preocupados, quanto por parte dos profissionais de saúde.