Parte dos estudos sobre Covid 19 nos EUA deixam velhos de fora
Um quarto dos estudos norte-americanos sobre a Covid 19 podem deixar de fora justamente o grupo etário mais ameaçado: os velhos. Ao revisar 241 estudos e ensaios listados num site governamental – o clinicaltrials.gov, mantido pelo National Institutes of Health – a geriatra Sharon K. Inouye, professora da Harvard Medical School, descobriu 37 com um limite de idade e outros 27 que, mesmo sem essa limitação, foram montados de modo que a população idosa corre o risco de ficar de fora.
Alguns desses 27 estudos excluíram pessoas com doenças comuns entre os mais velhos, como a hipertensão ou o diabetes. Outros permitem, por exemplo, que o pesquisador descarte um paciente com deficiência auditiva, para não perder tempo. Há ainda ensaios que não admitem quem tome vários medicamentos, o que usual entre os velhos.
Ao compilar os resultados preliminares, ainda não publicados, a doutora Inouye constatou que cerca de um quarto dos estudos norte-americanos podem excluir ou sub-representar os idosos. E deu o alerta para a colunista Paula Span, do New York Times:
“Daqui a um ano, quando esses testes forem publicados, não gostaria de ver que eles não incluem quem tem mais de 75 anos. Se criarem uma droga que funcione muito bem em pessoas saudáveis de 50 e 60 anos, perderão o barco”.
Dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos indicam que 80% das mortes por COVID-19 ocorreram em pessoas com 65 anos ou mais.
A barreira etária se repete em estudos internacionais examinados pela equipe da doutora Inouye, embora o estudo tenha se debruçado sobre os trabalhos listados no site norte-americano.
Na tentativa de evitar esse viés etário, o National Institutes of Health (correspondente à nossa Agência Nacional de Saúde, mas muito mais poderosa) passou a exigir no ano passado, antes da pandemia, portanto, que os estudos financiados incluíssem “indivíduos ao longo da vida”, a menos que os pesquisadores forneçam uma “justificativa aceitável” para a exclusão. Caso contrário, nada de recursos. A maioria dos ensaios clínicos, no entanto, tem financiamento privado e não precisa obedecer essa norma.