Velhos isolados correm mais risco que os ligados à família na pandemia, revela estudo italiano

(Foto: Pickpik)
Paulo Markun

O impacto desproporcional da Covid-19 sobre os italianos mais velhos parece ter maior relação com o isolamento social em que grande parte deles vivia que com a quantidade de seus contatos com gente mais nova, revela um estudo publicado na revista PLOS One, edição de 21 de maio.

A associação entre morbidade e idade já é conhecida, mas a pesquisa comandada pelo doutor Giuseppe Liotta, professor associado de higiene e saúde pública da Universidade de Roma, queria confirmar o papel do contato intergeracional na disseminação do vírus entre os mais velhos.

Para testar a hipótese, analisaram diversas variáveis, como o percentual de pacientes acima dos 80 anos entre os infectados, número de leitos disponíveis em casas de repouso, taxa de incidência de COVID-19 e o tempo de expansão da contaminação, chamado de maturidade da epidemia. Incluíram ainda na análise o tamanho médio das famílias e a porcentagem de pessoas vivendo sós.

No fim das contas, encontraram um paradoxo: a pandemia foi mais grave em regiões italianas com maior fragmentação familiar e maior disponibilidade de leitos nas chamadas instituições de longa permanência, ou casas de repouso.

A interpretação dos relatórios diários do Ministério da Saúde da Itália entre 28 de fevereiro e 31 de março, com base nos dados domiciliares e populacionais de cada região administrativa italiana provou que há, na verdade, uma correlação negativa entre o tamanho médio das famílias e a porcentagem de residentes com mais de 80 anos infectados pelo novo coronavírus.

Quando compararam a proporção de infecções por COVID-19 em idosos com a porcentagem de domicílios com um só membro e taxa de leitos para idosos, a situação se inverteu.Em resumo: pelo estudo italiano, o isolamento social dos velhos é um fator de risco maior para os idosos do que o contato intergeracional.

Os pesquisadores especulam que, no fim das contas, as relações sociais podem servir como um fator protetor contra o aumento das taxas de mortalidade da Covid-19.