Em Tempo https://emtempo.blogfolha.uol.com.br Velhices, longevidade, superação Wed, 26 Aug 2020 17:32:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Velhos que mantêm olfato têm menos chance de desenvolver demência https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/06/velhos-que-mantem-olfato-tem-menos-chance-de-desenvolver-demencia/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/06/velhos-que-mantem-olfato-tem-menos-chance-de-desenvolver-demencia/#respond Thu, 06 Aug 2020 09:05:47 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/rosas-cheiro-320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=613 Um estudo realizado pela Universidade da California em São Francisco e publicado em Alzheimer e Demência: The Journal of the Alzheimer’s Association em 20 de julho de 2020 acompanhou quase 1.800 velhos – na faixa dos 70 anos – por até dez anos e concluiu que os que mantiveram quatro sentidos – audição, visão, toque e olfato – tem até metade do risco de desenvolver demência, em relação aos que tiveram declínio sensorial.

No início do estudo, nenhum participante registrava sinais de demência, mas 18% (328) desenvolveram essa condição com o passar do tempo. A demência apareceu menos entre aqueles cujos níveis sensoriais estavam na faixa mais alta (12%), passou para 19% no nível intermediário e subiu para 27% no grupo com maior perda de olfato, audição, visão e tato. As pesquisas anteriores tinham se voltado para a ligação entre a demência e os sentidos individuais, enquanto os pesquisadores da UCSF foram atrás dos efeitos aditivos de várias deficiências na função sensorial.

“As deficiências sensoriais podem ser devido à neurodegeneração subjacente ou aos mesmos processos de doença que afetam a cognição, como o derrame”, disse a doutora Willa Brenowitz, Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UCSF “Alternativamente, deficiências sensoriais, particularmente audição e visão, podem acelerar o declínio cognitivo, impactando diretamente a cognição ou indiretamente, aumentando o isolamento social, reduzindo a mobilidade e piorando a saúde mental.”

As várias deficiências foram analisadas, mas ficou demonstrado que a perda de olfato tem uma associação mais forte com a demência do que o tato, a audição ou a visão. Os participantes cujo cheiro diminuiu em 10 por cento tinham uma chance 19 por cento maior de demência, contra um risco aumentado de 1 a 3 por cento para declínios correspondentes na visão, audição e tato.

“O bulbo olfativo, que é crítico para o olfato, é afetado bem no início do curso da doença”, disse a doutora Brenowitz para a repórter Suzanne Leigh, da UFCS. “Acredita-se que o cheiro pode ser um indicador pré-clínico de demência, enquanto a audição e a visão podem ter um papel mais importante na promoção da demência.”

Os 1.794 participantes foram recrutados de uma amostra aleatória de adultos elegíveis para o Medicare no estudo Saúde, Envelhecimento e Composição Corporal. O teste cognitivo foi feito no início do estudo e repetido a cada dois anos. A demência foi definida por testes que mostraram uma queda significativa dos escores basais, uso documentado de um medicamento para demência ou hospitalização por demência como diagnóstico primário ou secundário.

O teste multissensorial foi feito no terceiro ao quinto ano e incluiu audição (aparelhos auditivos não eram permitidos), testes de sensibilidade ao contraste para a visão (óculos eram permitidos), teste de toque em que as vibrações eram medidas no dedão do pé, e olfato, envolvendo a identificação de odores distintos, como diluente, rosas, limão, cebola e terebintina.

Os participantes que permaneceram livres da demência geralmente tinham cognição superior no momento da inscrição e tendiam a não ter deficiências sensoriais. Aqueles na faixa intermediária tendiam a ter vários comprometimentos leves ou um único comprometimento moderado a grave. Os participantes com maior risco tinham vários prejuízos moderados a graves.

A doutora Kristine Yaffe dos departamentos de Psiquiatria e Ciências do Comportamento, Epidemiologia e Bioestatística e Neurologia da UCSF destacou que mesmo deficiências sensoriais leves ou moderadas em vários domínios foram associadas ao risco aumentado de demência, indicando que as pessoas com função multissensorial deficiente integram um grupo de alto risco que pode ser alvo de intervenção antes do início da demência.

Os 780 participantes com boa função multissensorial eram mais propensos a serem mais saudáveis do que os 499 participantes com função multissensorial ruim, sugerindo que alguns hábitos de vida podem desempenhar um papel na redução dos riscos de demência. O primeiro grupo tinha mais probabilidade de ter concluído o ensino médio (85 por cento contra 72,1 por cento), tinha menos diabetes (16,9 por cento contra 27,9 por cento) e era marginalmente menos provável de ter doenças cardiovasculares, hipertensão e derrame.

Num resumo rasteiro, mas poético, os que foram capazes de identificar cheiros como o de aguarrás, diluentes, limões e rosas estavam mais longe da demência. Parafraseando Cartola, as rosas não falam, mas quem é capaz de lhes sentir o perfume entendem melhor as coisas – inclusive poemas.

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Otimismo do parceiro pode reduzir risco de doenças na velhice, segundo estudo https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/02/13/otimismo-do-parceiro-pode-reduzir-risco-de-doencas-na-velhice-segundo-estudo/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/02/13/otimismo-do-parceiro-pode-reduzir-risco-de-doencas-na-velhice-segundo-estudo/#respond Thu, 13 Feb 2020 15:46:12 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/19328077584_002ed74ae7_c-320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=400 Pesquisadores da Universidade de Michigan confirmaram o que o bom senso já indicava: nos casamentos, o otimismo do parceiro faz bem à saúde. À medida em que envelhecem juntos, os casais podem evitar os fatores de risco que levam à doença de Alzheimer, demência ou declínio cognitivo se mantiverem o bom humor.

“Passamos muito tempo com nossos parceiros”, disse William Chopik, professor assistente de psicologia e um dos autores do estudo. “Eles podem nos encorajar a fazer exercícios, comer de forma mais saudável ou nos lembrar de tomar nosso remédio. Quando seu parceiro é otimista e saudável, isso pode se traduzir em resultados semelhantes em sua própria vida. Você realmente experimenta um futuro melhor vivendo mais e evitando doenças cognitivas “.

Publicado no Journal of Personality, o estudo apresenta os resultados obtidos junto a 4.500 casais heterossexuais acompanhados por até oito anos pelo Health and Retirement Study (Estudo de Saúde e Aposentadoria em tradução livre). Os pesquisadores descobriram uma ligação potencial entre o casamento com uma pessoa otimista e a prevenção do início do declínio cognitivo, graças a um ambiente mais saudável em casa.

“Descobrimos que, quando você analisa os fatores de risco de doenças como o Alzheimer ou a demência, um estilo de vida saudável conta muito”, disse Chopik. “Manter um peso saudável e atividade física colabora. Existem alguns marcadores fisiológicos também. Parece que as pessoas que são casadas com otimistas tendem a pontuar melhor em todas essas métricas. Há uma sensação de que os otimistas lideram pelo exemplo e seus parceiros seguem a liderança”, disse Chopik.

O pesquisador lembra que existem estudos sobre a reação dos parceiros a tentativas de controle ou sobre a inveja em relação à situação do outro, mas acredita que essas condições são compensadas pelo otimismo do marido ou da mulher.

A pesquisa também indicou que casais que relembram experiências compartilhadas, conseguem obter detalhes mais ricos de suas memórias. O declínio cognitivo é observado em casais otimistas e pessimistas – na verdade, é uma consequência do envelhecimento – mas o estudo mostrou que entre aqueles que tinham parceiros com “baixo otimismo” esse declínio foi muito maior.

O Dr. Chopik acredita que o otimismo é uma qualidade treinável e que todos se beneficiam de uma dose saudável de otimismo por parte dos parceiros: “Você realmente experimenta um futuro melhor vivendo mais e evitando doenças cognitivas. Existem estudos que mostram que as pessoas têm o poder de mudar suas personalidades, desde que se envolvam em coisas que as fazem mudar”, disse Chopik. “Parte disso está querendo mudar. Também existem programas de intervenção que sugerem que você pode aumentar o otimismo. Eles podem nos encorajar a fazer exercícios, comer de forma mais saudável ou nos lembrar de tomar nosso remédio. Quando seu parceiro é otimista e saudável, isso pode se traduzir em resultados semelhantes em sua própria vida. Você realmente experimenta um futuro melhor vivendo mais e evitando doenças cognitivas “.

O declínio cognitivo é observado em casais otimistas e pessimistas – na verdade, é uma consequência do envelhecimento – mas o estudo mostrou que entre aqueles que tinham parceiros com “baixo otimismo” esse declínio foi muito maior.

O Dr. Chopik acredita que o otimismo é uma qualidade treinável e que todos se beneficiam de uma dose saudável de otimismo por parte dos parceiros: “Você realmente experimenta um futuro melhor vivendo mais e evitando doenças cognitivas. Existem estudos que mostram que as pessoas têm o poder de mudar suas personalidades, desde que se envolvam em coisas que as fazem mudar”, disse Chopik.”Parte disso está querendo mudar. Também existem programas de intervenção que sugerem que você pode aumentar o otimismo”.

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Ciência começa a cercar doença de Alzheimer https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/02/ciencia-comeca-a-cercar-doenca-de-alzheimer/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/02/ciencia-comeca-a-cercar-doenca-de-alzheimer/#respond Sun, 02 Jun 2019 22:53:30 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/461627701_35e096e951_z-320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=147 A ciência está cercando a doença de Alzheimer, embora o diagnóstico ainda seja difícil, a prevenção, impossível e a cura, um sonho distante. Novas pesquisas apontam para fatores de risco e simplificam o diagnóstico, ao mesmo tempo em que medicamentos empregados contra outros problemas parecem ter boas possibilidades de ajudar no tratamento, hoje restritos a melhorar a qualidade de vida e ampliar a sobrevida.
O diagnóstico definitivo requer detecção post mortem, mas um diagnóstico provável pode ser estabelecido com 95% de confiança baseado em critérios clínicos, que incluem histórico médico, testes laboratoriais e de imagem e avaliação neuropsicológica. Antecipar a identificação da doença não é simples, pois os sintomas iniciais são compartilhados por uma série de desordens, incluindo formas mistas de demência e depressão.
Em Melbourne, Austrália, o professor Peter van Wijngaarden, do Centro de Pesquisa de Olhos da Austrália (CERA) recebeu uma doação de 600 mil dólares de um grupo de filantropos americanos – Bill Gates da Microsoft e os investidores Jeff e Mackenzie Bezos entre eles – que permitirá ampliar os testes de um método que utiliza tecnologia empregada nos satélites da Nasa para procurar proteínas anormais no fundo do olho de pacientes suspeitos de serem portadores da doença, mesmo que não apresentem sinais de perda de memória. O financiamento vem de um novo programa de pesquisa chamado Diagnostics Accelerator, que busca atender à necessidade urgente de testes de diagnóstico e biomarcadores rápidos, acessíveis e fáceis de usar para a doença de Alzheimer e demências relacionadas.
Depois de analisar 300 propostas, os consultores científicos do grupo selecionaram quatro projetos para receber 3,5 milhões de dólares. Além do teste de olho, que leva menos de um segundo e utiliza diferentes cores de luz, há ainda o trabalho da Amoneta Diagnostics, um teste de diagnóstico rápido e não invasivo para prever o comprometimento cognitivo leve (MCI) e a doença de Alzheimer precoce; os estudos do suiço Kaj Blennow, da Universidade de Gotemburgo, que está desenvolvendo o primeiro teste de sangue ultra-sensível para a proteína tau, que tem relação com a doença e pesquisa de Tom MacGillivray, da Universidade de Edimburgo na Escócia, que usa uma nova combinação de biomarcadores de retina que capturam a neurodegeneração e a disfunção dos vasos sanguíneos frequentemente encontrada na doença de Alzheimer com análises avançadas de imagens.
Mas há outros avanços, ainda que indiretos. Em Chicago, pesquisadores do Centro Rush, dedicado à investigação da doença, estudaram 935 idosos durante seis anos. Os participantes começaram por preencher um questionário que testava sua percepção de fraudes, a partir de cinco perguntas destinadas a medir sua abertura a vendas e investimentos arriscados. Durante seis anos, foram submetidos a testes neuropsicológicos para verificar a presença da doença ou comprometimentos cognitivos leves. Os 264 participantes que morreram ao longo do estudo foram submetidos a autópsias cerebrais, que permitiu estabelecer uma correlação entre mau desempenho nos testes e no questionário com a sinais associados ao Alzheimer. O estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine ressalta, contudo, que as descobertas não são robustas o suficiente para sugerir que ser enganado significa que uma pessoa desenvolverá a doença de Alzheimer.
Em Atlanta, Georgia, nos Estados Unidos, especialistas da Emory University e do Atlanta Veterans Affairs Medical Center da vizinha Decatur, identificaram uma conexão entre o colesterol LDL (o assim chamado mau colesterol) e início da doença. Mas a pesquisa não é conclusiva, ainda.
No Reino Unido, um dos pólos mais desenvolvidos de pesquisa sobre Alzheimer, mais de dez mil pessoas participam de estudos como voluntários. Ali, os pesquisadores descobriram que os tratamentos para artrite podem ser reaproveitados no enfrentamento da demência. O próximo estágio dessa pesquisa coordenada pela doutora Bernardette McGuiness será entender melhor o potencial dos medicamentos anti-inflamatórios no tratamento de pessoas com demência. Por outro lado, os cientistas ingleses recomendaram que os clínicos gerais evitem prescrever alguns medicamentos anticolinérgicos (drogas que atuam no sistema parassimpático) para pessoas mais velhas. Outro caminho é a disseminação de testes e joguinhos em smartphones que ajudam os pesquisadores a entender o funcionamento do cérebro.
Em resumo, o ataque científico a esse que parece ser o maior fantasma a rondar o envelhecimento tem sido multilateral e massivo. Mas a fortaleza da doença identificada pela primeira vez numa mulher pelo psiquiatra alemã Alois Alzheimer em 1901, parece resistir a todos os esforços. Até agora.

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Alzheimer: cura continua distante, apesar dos avanços https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/alzheimer-cura-continua-distante-apesar-dos-avancos/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/alzheimer-cura-continua-distante-apesar-dos-avancos/#respond Wed, 24 Apr 2019 09:20:53 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/256px-PET_Alzheimer-256x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=105  

Boas e más notícias envolvendo um dos maiores fantasmas que rondam o envelhecimento: o mal de Alzheimer. Comecemos pela boa – até mesmo atividades físicas leves, como lavar a louça, varrer a casa ou arrumar o quarto, podem ajudar a manter o cérebro jovem. Uma equipe internacional de pesquisadores acompanhou pelo menos três dias de dados de rastreadores de atividade de 2.354 adultos de meia-idade em Massachussets, nos EUA, juntamente com as imagens cerebrais dos participantes. Levando em conta fatores como sexo, tabagismo e idade, a equipe descobriu que cada hora de atividade física leve por dia está ligada a um volume cerebral maior em 0,22%, o equivalente ao que o cérebro perde durante um 1,1 ano, depois dos 60 anos de idade. Quem dá dez mil passos por dia – uma caminhada de sete quilômetros – tem um aumento do cérebro maior que os que dão cinco mil passos ou menos. A perda ou encolhimento do tecido cerebral estão ligados à demência. Os dados foram originalmente publicados no Jama Network Open, um site de informação científica reconhecido e de acesso aberto.

Ou seja: o estudo toma cuidado, cercando essas informações de alguns condicionantes, mas a conclusão é clara e pode ser traduzida assim, num blog generalista: vale se mexer, mesmo que você não queira ser um ás da ginástica ou um maratonista.

Revigorados, portanto, vamos às más notícias. Duas grandes empresas, a suiça Biogen e a japonesa Eisai abandonaram os testes que faziam em parceria com aducanumab, uma proteína especialmente desenhada para combater as placas que estão associadas à progressão do mal de Alzheimer. As ações da Biogen caíram 29 por cento, antes mesmo dos detalhes do estudo virem a público. O primeiro teste com uma abordagem semelhante havia fracassado há mais de dez anos, Grandes companhiar, como Eli Lilly e Pfizer desistiram do jogo, mas segundo uma pesquisa feita pela Translational Research and Clinical Intervention, em setembro de 2017, existiam 105 novos medicamentos sendo desenvolvidos contra o mal de Alzheimer. Mais da metade não focavam as tais placas que o aducanumab reduz.

Existem hoje mais de 44 milhões de pessoas em todo mundo com o mal de Alzheimer.Uma doença específica, identificada pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1907 e que só é efetivamente comprovada se e quando o cérebro do paciente for submetido a uma autópsia.

Há outros dados na fronteira de boas e más notícias. O médico Ricardo Nitrini, professor titular de Neurologia da Universidade de São Paulo e editor-chefe da revista Dementia & Neuropsychologia, que entrevistei para a série de documentários sobre velhice que estou produzindo no momento diz que há mais prevalência de demência no Brasil do que em países mais desenvolvidos por causa do nível de educação do povo. Nos Estados Unidos, as pesquisas avaliam pessoas com 16 anos de estudo em média, enquanto os brasileiros tem quatro anos de escolaridade em média:

“Os estudos neuropatológicos demostram que, para o mesmo grau de doença cerebral analisada no cérebro por microscópio, a demência é mais grave, ou aparece nos indivíduos de baixa escolaridade, antes do que nos indivíduos de alta escolaridade. Por que? Uma das hipóteses é a seguinte: o indivíduo de alta escolaridade tem um repertório de soluções para uma questão que o indivíduo de baixa escolaridade não tem. O indivíduo de baixa escolaridade, por exemplo, se lhe falta uma palavra, quando ele está conversando, é muito difícil que ele use sinônimos. Ele tem uma certa dificuldade, ele não tem um repertório. Estou dando um exemplo bem simples. Mas não é só para isso, para tudo que o indivíduo vai fazer, ele precisa ter estratégias para resolver – e quem estudou mais, tem mais alternativas. Os médicos muitas vezes escrevem para o paciente, coisas assim: ‘Tome esse comprimido uma hora antes do almoço. E duas horas depois do jantar’. E entrega para o paciente. Nós fizemos um teste: entregávamos um remédio com a prescrição onde estava escrito: ‘Tome um comprimido antes do almoço.’ Daí, perguntávamos: ‘Se você for almoçar ao meio dia, que horas você deve tomar o comprimido? E se você for jantar às 19 horas, que horas tomaria?’ E as pessoas se perdiam completamente, porque não eram capazes de ler”

Moral da história: educação é remédio… até para o mal de Alzheimer.

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Professores da Unicamp querem criar cohousing, a ‘república’ de velhos https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/professores-da-unicamp-querem-criar-cohousing-a-republica-de-velhos/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/professores-da-unicamp-querem-criar-cohousing-a-republica-de-velhos/#respond Thu, 21 Mar 2019 19:43:34 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/VilaConViver_fundacao_associacao_web-320x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=77  

Na Universidade Estadual de Campinas, um grupo de professores e funcionários aposentados dedica-se, desde 2013, a criar um projeto de cohousing. Muito mais que um simples condomínio para idosos, a Vila Conviver é uma comunidade – e o principal projeto do professor Bento da Costa Carvalho Junior, 73 anos, coordenador do GT Moradia da Adunicamp.
Bento explica que são as dependências comuns que definem os projetos de cohousing, conceito que surgiu na Dinamarca no fim do século passado. A outra definição é etária – trata-se de uma iniciativa dirigida a quem tem mais de 50 anos e mira a velhice fora de seu apartamento ou de um casarão – quase sempre vazio.
A cohousing responde à redução do tamanho das famílias e ao aumento da longevidade. Bento acredita que as casas que ele e seus colegas construíram ou compraram, não sem sacrifício, quando jovens, deixam de fazer sentido hoje:
“São casas que foram construídas ou compradas pra uma época em que a gente tinha filhos, em que a gente precisava de espaço, tinha toda uma vida social e, à medida que você vai envelhecendo, essas casas se tornam muito grandes. Além de se tornarem grandes, elas se tornam perigosas, porque não foram construídas pensando no idoso. Então, a questão dos espaços, degraus e coisas assim, não são casas seguras. São casas que dão custo de manutenção elevado. E, chega uma idade, que não é nem mais o custo de manutenção pra quem tem o dinheiro, que é uma coisa pesada, mas é a questão de você ter gente pra fazer, ir atrás. As pessoas não querem mais isso. Então, a cohousing responde a essas três coisas.
Há outros benefícios: queda na incidência de demência senil e aumento da vida acima da média da população:
“As estatísticas do governo dinamarquês mostram o seguinte: que as pessoas vão menos a médico e tomam menos remédio. Então, elas têm muito mais qualidade de vida. A grande vantagem da cohousing é também você viver os anos após a aposentadoria no meio de pessoas que você conhece e respeita …. acaba formando grandes amizades e você tem uma vida muito mais rica do que viver isolado”.
A Vila Conviver busca 66 participantes para viver em 44 casas de 100m², cada uma delas correspondendo a duas cotas. Se a pessoa se satisfizer com menos espaço, compra apenas uma cota e fica com 50 metros quadrados. Há 30 nomes na fica de espera.
Economia não é a motivação principal: a cota para 50 metros quadrados custa 200 mil reais e a de cem metros, o dobro. Isso porque os participantes pagam também as áreas comuns, que são muitas: pista de caminhada, uma casa comunitária, onde ficará restaurante, cozinha, sala de estar, de jogos, de arte, etc. E até uma horta.
O terreno já foi encontrado – tem mais de 20 mil metros quadrados e fica em Barão Geraldo, perto da Unicamp. Em dois anos, esperam ter a comunidade implantada. 
Existem outros 15 projetos em desenvolvimento no Brasil. Um dos maiores problemas é o financiamento:
“Não há financiamento, por exemplo, do sistema financeiro da habitação, porque o financiamento está ligado a uma escritura individual, que não existe na nossa cohousing, mas a gente pode conseguir isso através de investidores individuais, né, que têm uma parte do seu capital que é destinada a doar projetos inovadores, entende, projetos com impacto social. Nós vamos buscar esse tipo de coisa.”

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Fui abastecer, achei que era Alzheimer https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/fui-abastecer-achei-que-era-alzheimer/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/fui-abastecer-achei-que-era-alzheimer/#respond Thu, 21 Feb 2019 23:20:53 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Alois_Alzheimer_003-300x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=45 Aconteceu nas últimas férias de verão, aqui em Portugal. Netas, filho e nora para a praia, não cabiam num carro e alugamos dois. No volante de um deles, vi que era preciso abastecer – o outro tinha combustível suficiente. Como qualquer consumidor na Europa, liguei a bomba, coloquei a mangueira no bocal do tanque e fiz o serviço que no Brasil, cabe aos frentistas. Tanque cheio, conta paga, arranquei. Menos de um quilômetro depois, pimba! Pane no motor. Foi quando me dei conta da besteira: enchera o tanque do carro a gasolina com gasóleo, ou diesel para nós. As duas bombas ficam lado a lado e na correria e excitação, misturei as bolas.
Liguei para a locadora e informei o ocorrido. Disseram que iam mandar um reboque e um táxi. As “meninas” seguiram para a praia num carro, enquanto eu e meu filho acompanhamos o outro até o páteo de recolha dos carros avariados, de onde o táxi nos levou até a locadora. Ali, para nosso desencanto e desespero, ficamos sabendo que o seguro não cobria meu erro, classificado de “negligência”. Teria de alugar outro carro e pagar o prejuízo – uma nota. Tentei a saída brasileira – o jeitinho. E se eu consertasse o carro? O atendente disse que ninguém havia tentado antes e que nesse caso, o problema seria nosso.
Voltamos ao pátio, conseguimos uma empresa especializada em trocar combustível ( a negligência é frequente, pelo visto) e horas e algumas centenas de euros mais tarde, chegamos à casa alugada.
Na volta, o carro que nos levara até lá sem problemas deu pane e foi rebocado até a locadora. Parece que a troca de combustível não resolveu tudo e ao abastecer novamente, agora com gasolina, o motor deu problema. No dia seguinte, fui devolver o outro carro. Tanque vazio, parei no posto, olhei duas vezes para as bombas, antes de abastecer. Alguns metros adiante, outra pane no motor. Estava tão certo de ter colocado gasolina que caminhei pela margem da autopista, arriscando a vida, até alcançar o posto e me dar conta de que enchera com gasóleo, mais uma vez. Moral da história – um prejuízo enorme, que destruiu o planejamento financeiro das férias e dos meses seguintes.
Pior foi a conclusão a que cheguei: só podia ser Alzheimer. Já havia começado as pesquisas para os documentários sobre envelhecimento, que levaram a este blog, mas ainda não entrevistara nenhum especialista. Esperei ansioso pela consulta com minha médica de família, aqui em Lisboa. A jovem doutora ouviu minha história e depois de conter o sorriso, fez várias perguntas:
– Sabe o nome dos seus filhos? Sabe onde mora? Lembra o nome de objetos de uso comum?
Diante das respostas afirmativas, dispensou qualquer exame mais complicado e receitou um remedinho para a memória. De volta ao Brasil, a jornalista Claudia Erthal, que divide comigo a direção da série Envelhecer, ainda em produção, foi conversar com a médica Claudia Suetomo. Professora doutora da Disciplina de Geriatria da FMUSP, ela é pesquisadora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da FMUSP e do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Em seu doutorado, pesquisou a associação entre fatores de risco cardiovascular e demência.
Claudia explicou que por volta dos 30 anos, todos começamos a perder neurônios, sem reposição. Diminui também a complexidade das comunicações entre os neurônios que se assemelham a árvores que vão perdendo os galhos – a rede dendrítica, na terminologia científica.
Assim, ao envelhecermos, vamos ficando mais lentos, temos mais dificuldade de aprender. É por isso que nossos netos (ou filhos) são capazes de descobrir como funcionam as novas bugigangas eletrônicas que nos tiram a paciência.
“Eu até brinco com os alunos aqui, eles conseguem fazer quatro coisas ao mesmo tempo. Eles conseguem prestar atenção na aula, responder um e-mail, depois ver um twitter e ainda falar com o cara do lado e tá tudo bem. Quando a gente fica mais velho, não fica tão rápido pra fazer quatro, cinco coisas ao mesmo tempo. Temos de ter o discernimento de fazer uma coisa de cada vez pra fazer bem feito.”
Alzheimer é uma grande ameaça. É um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Nas fases iniciais, manifesta-se muitas vezes por lapsos de memória e dificuldade de encontrar as palavras certas para objetos do cotidiano. Seu diagnóstico é complexo e só se torna efetivo com a autópsia do portador. Quem resolve colocar as bombas de gasolina e gasóleo lado a lado e empoderar os consumidores, eliminando os frentistas, talvez não saiba disso.

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