Em Tempo https://emtempo.blogfolha.uol.com.br Velhices, longevidade, superação Wed, 26 Aug 2020 17:32:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pesquisadoras brasileiras alertam para urgência de cuidar dos lares de idosos na pandemia https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/26/pesquisadoras-brasileiras-alertam-para-urgencia-de-cuidar-dos-lares-de-idosos-na-pandemia/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/08/26/pesquisadoras-brasileiras-alertam-para-urgencia-de-cuidar-dos-lares-de-idosos-na-pandemia/#respond Wed, 26 Aug 2020 17:04:49 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/soldiers-covid-.jpeg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=632 O coronavírus tem algumas preferências para contaminar e vitimar humanos – e uma das mais óbvias são o que o Brasil resolveu chamar de instituições de longa permanência – os antigos asilos ou lares de idosos. Se não há dados confiáveis sobre o avanço da pandemia no país, menos ainda são as informações sobre esse segmento, que abriga menos de 1% de nossos velhos.

Em artigo apresentando na Geriatrics Gerontololy and Aging, publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Gerontologia, Helena Akemi Wada Watanabe, Marisa Accioly Rodrigues da Costa Domingues e Yeda Aparecida de Oliveira Duarte reclamam uma ação imediata nessas instituições: “Nós estamos gritando pela atenção a essas pessoas que, em sua maioria, não podem mais gritar por ajuda e estão esquecidas nesses locais. Faz-se imprescindível uma ação imediata, pois elas não possuem reserva para resistir sem ajuda. Isso ocorre de forma especial nas instituições pequenas, muitas delas ilegais e desconhecidas. Existem em todo o país e precisam ser vistas e ajudadas nesse momento”.

As pesquisadores lembram que o Censo realizado há uma década pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada indicou a existência de cerca de 90 mil idosos vivendo nas 3.600 instituições do gênero no pais – a maioria (65%) filantrópica)Um inquérito nacional realizado entre 2016 e 2018 concluiu que havia aproximadamente 51 mil velhos vivendo em instituições públicas e filantrópicas do país, sendo 65% semi-dependentes ou dependentes e, portanto, frágeis; hoje esse número pode chegar a 78 mil, calculam.

As instituições semelhantes nos Estados Unidos estão obrigadas, a partir desta terça-feira, a testar suas equipes e oferecer testes aos residentes. Os resultados deverão ser compartilhados com o governo e com os hospitais. Em julho, o governo comprou mais de 750 mil testes para serem distribuídos aos lares de idosos. Além disso, a administração Trump liberou US $ 5 bilhões adicionais de um fundo federal para ajudar essas instituições na pandemia.

Algumas instituições estão testando um anticorpo que pode evitar a contaminação dos idosos que vivem nesses locais. Isso já aconteceu no Heartland Health Care Center, uma casa de repouso em Moline, Illinois, uma das primeiras instituições a ser incluída nesse experimento. Tudo começou no último dia do mês passado, quando um membro da equipe de enfermagem testou positivo. No dia seguinte, um supervisor de enfermagem da instituição ligou para o laboratório Eli Lilly, que estava em busca de teste para um anticorpo monoclonal desenvolvido a partir do sangue de um sobrevivente da Covid 19. Um medicamento caro e difícil de produzir.

Mais 24 horas e dois veículos do laboratório estacionavam em frente à casa de repouso: um caminhão levando cadeiras especiais, suporte para bolsas de infusão, mesas de cabeceira e telas de privacidade. No outro, havia uma espécie de laboratório móvel com freezers, centrífuga e computadores.

A sala de jantar da instituição virou um mini-hospital, onde 25 dos 80 residentes (os que concordaram em participar voluntariamente) foram incluídos no experimento. Os velhos não sabem se estão recebendo o tal anticorpo monoclonal, desenhado para se prender ao vírus e bloquear sua entrada nas células, ou um placebo. A droga precisa ficar entre um e três meses no corpo dos participantes. O mesmo estudo está sendo realizado em outros lares de idosos nos Estados Unidos. O laboratório quer inscrever 2.400 residentes e funcionários e já tem 125 concordâncias.

O doutor Myron Cohen, pesquisador da Universidade de Carolina do Norte, que propôs o ensaio e foi entrevistado pela repórter Gina Kolata do New York Times explica sua motivação: “Algumas pessoas perguntam: ‘Se temos uma vacina, por que fazer isso? Mas uma vacina leva um mês para produzir anticorpos, e algumas populações precisam de uma intervenção mais emergente.”

O dr. Cohen ficou impactado com os relatos de moradores infetados morrendo sozinhos, sem que as visitas fossem permitidas e com o avanço da doença sobre as equipes clínicas: “Os executivos das casas de saúde estavam ansiosos para participar do estudo. No final das ligações, fiquei muito abalado, Eles explicaram o sofrimento inacreditável de clientes e famílias.”

Este é o último texto do blog na Folha de S. Paulo. O primeiro foi publicado em 12 de fevereiro de 2019 e falava de uma pequena cidade italiana cujo prefeito queria criar uma vila de aposentados de todo mundo – bem antes da pandemia. O autor agradece a acolhida do jornal neste período e seguirá acompanhando o tema, já que este é seu lugar de fala, como dizem…

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Pandemia revela crise nas instituições para idosos em vários países https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/pandemia-revela-crise-nas-instituicoes-para-idosos-em-varios-paises/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/20/pandemia-revela-crise-nas-instituicoes-para-idosos-em-varios-paises/#respond Mon, 20 Apr 2020 14:20:59 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/idosos-lar-sampa-.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=496 O coronavírus deixará uma tarefa global urgente: repensar o sistema de instituições de longa permanência que cuidam de idosos em vários países. As informações, ainda imprecisas e fragmentadas, demonstram a enorme vulnerabilidade dessas instituições, que abrigam um percentual pequeno dos mais velhos (um por cento no Brasil, 5% nos EUA), existem desde a Grécia Antiga, são alvo de preconceito, mas colecionam histórias terríveis, que a pandemia veio multiplicar.

No Canadá, a diretora de saúde pública, Theresa Tam, afirmou que cerca de metade das mortes de coronavírus aconteceu em casas de repouso. Numa instituição de Montreal, Rèsidence Herron, a equipe médica abandonou os pacientes famintos e doentes e as autoridades se deram conta de que o proprietário tinha uma longa ficha criminal. Ali morreram 31 pessoas em menos de um mês, com cinco casos confirmados de coronavírus.

A polícia encontrou 17 corpos em sacos plásticos numa pequena sala do Andover Subagute and Rehabilitation Center II, no Estado de Nova York, um lar de idosos com 543 camas, que não tinha qualquer condição de enfrentar a Covid-19. Pelo menos 70 pessoas morreram na instituição, onde dezenas de residentes e funcionários testaram positivo.

Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times estimou em sete mil o número de mortos pela Covid 19 em casas de repouso – um quinto do total. Outro levantamento da ABC News foi além e contabilizou 7.300 pessoas vivendo em tratamento vítimas da pandemia.

A ABC divulgou as estimativas de especialistas que acham provável que o número real seja ainda maior, já que os dados disponíveis abrangem apenas 19 estados onde os escritórios dos governadores e os departamentos estaduais de saúde acompanharam a pandemia. Outros 21estados ainda não informaram esses dados, nem responderam aos pedidos de informações da rede de TV.

Na Califórnia há mais de três mil casos positivos entre residentes e funcionários das 61 instituições. No estado do Illinous, há casos – pelo menos um – em 186 instituições em 22 municípios. Um quarto de todas as mortes relatadas por coronavírus aconteceram nessas ILPs.

O governo federal americano resolveu afinal exigir que as casa de repouso informem os residentes, suas famílias e representantes, quando alguém na instituição contrair a doença. A nova regra exige que os lares detalhem que medidas estão tomando para mitigar a propagação da doença e relatem os casos de COVID-19 diretamente aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, para que assim surja um banco de dados nacional – hoje, as instituições são obrigadas a informar apenas as autoridades locais e estaduais.

Na semana passada, a Agência de Saúde Pública da Suécia informou que 1.333 pessoas haviam morrido de coronavírus, levando Anders Tegnell, o comandante do combate à pandemia a reconhecer que é essa a área mais problemática, ecoando o que dissera pouco antes o primeiro-ministro Stefan Löfven. Especialistas apontam a situação nos lares de idosos como o grande fracasso da estratégia sueca, menos restritiva que a de países próximos.

No Reino Unido, o National Care Forum (NCF), que representa instituições de cuidadores sem fins lucrativos, estima em quatro mil as mortes durante a pandemia, que não foram incluídas nas estatísticas oficiais. Outros 3.300 ocorreram já nos hospitais, para onde os internos sintomáticos foram transferidos. Até o dia três de abril, a contabilidade oficial carimbava só 217 mortos como sendo de casas de repouso na Inglaterra e País de Gales. Os cuidadores querem que o governo construa um “anel de aço” em torno das ILSs, oferecendo equipamentos de proteção individual, dispositivos de monitoramento médico, testes rápidos, pesquisas e financiamento

A boa notícia inglesa é que está sendo preparada (é anterior à pandemia, registre-se) uma pesquisa ampla envolvendo mais de duas dúzias de pesquisadores da Universidade de Edimburgo e o grupo de serviços financeiros Legal & General, para examinar a qualidade de vida dos idosos. O Centro de Pesquisas em Cuidados Avançados foi criado em janeiro e começara o trabalho em setembro, sob o comando do diretor do centro, professor Bruce Guthrie. A L&G admite que a pandemia expôs as fraquezas do sistema de assistência social, que já vinha em crise há algum tempo. Guthrie quer que a ação seja rápida e urgente: “Como clínico e acadêmico, vejo a imensa pressão que o Sistema Nacional de Saúde (NHS) e os sistemas de assistência estão sujeitos ao Covid-19, mas não devemos perder de vista o objetivo de longo prazo de garantir que os cuidados posteriores sejam eficaz, seguro, humano e eficiente possível.”

Para Nigel Wilson, CEO da L&G, as pressões no sistema de assistência permanecerão após o desaparecimento da pandemia atual e será necessária uma abordagem de longo prazo, baseada em pesquisa e em todo o sistema.

No Brasil não há estatísticas confiáveis. Alguns casos são dramáticos. No município de Antonio Carlos, na Grande Florianópolis, há uma única instituição de longa permanência de idosos. Ali quatro moradores morreram com diagnóstico de coronavírus e outros seis estão com a doença. A casa de repouso contabiliza sozinha praticamente todos os casos de Covid-19 da cidade de pouco mais de 8,5 mil habitantes. O município, que não tem hospital e conta apenas com um Centro de Saúde, está em situação de calamidade pública.

Pelas contas da prefeitura, são 13 os casos de coronavírus, dos quais 11 no asilo. O estado de Santa Catarina diz que os mortos até dia 19 de abril eram 35. A curva de crescimento não é das piores, mas não há informações sobre o universo específico das instituições de longa permanência.

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Moradias assistidas para idosos explodem nos EUA, mas falta regulação https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/02/22/moradias-assistidas-para-idosos-explodem-nos-eua-mas-falta-regulacao/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2020/02/22/moradias-assistidas-para-idosos-explodem-nos-eua-mas-falta-regulacao/#respond Sat, 22 Feb 2020 13:03:17 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/assisted-life-florida--320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=409 Essa modalidade de moradia surgiu na Flórida, nos anos 70 do século passado, para o topo da pirâmide: casas ou apartamentos especialmente projetados para atender às demandas dos idosos. Foi um sucesso tamanho que nos últimos 20 anos, esses condomínios quase triplicaram e são hoje cerca de 30 mil projetos.

Os moradores geralmente têm seu próprio apartamento privado. Embora não haja o mesmo monitoramento médico disponível nos lares de idosos (as instituições de longa permanência), enfermeiros estão disponíveis por telefone ou e-mail 24 horas por dia. Há uma equipe treinada para fornecer outros serviços necessários e realizar as tarefas domésticas. Os lençóis são trocados, a roupa é lavada e a comida é preparada e servida como parte do aluguel básico e dos serviços incluídos.

Os serviços de vida assistida também podem incluir o acompanhamento da medicação, ajuda na hora do banho e das refeições, academia e salão de beleza. O serviço de supermercado também costuma estar disponível. Em condomínios menos caros, o espaço individual parece um quarto de hotel e existem áreas sociais comuns, como cozinha e sala de jantar central. O custo médio é de quatro mil dólares por mês por idoso.

É um negócio lucrativo: os investidores obtiveram retornos anuais de quase 15% nos últimos cinco anos – mais que hotéis, escritórios, varejo e apartamentos, informa a professora Geeta Anand, repórter aposentada em seu blog no The New York Times, citando dados do National Investment Center for Seniors Housing and Care.

A própria Geeta chegou a considerar a hipótese de colocar a mãe numa dessas casas. O pai dela morreu em 2017, depois de viver com Geeta por nove anos; a mãe, aos 83, vive em Nova York com a irmã dela. “Achamos que a vida assistida ofereceria melhor assistência a nossa mãe e aliviaria a pressão sobre minha irmã, que trabalha em período integral enquanto cria uma filha pequena. Infelizmente, descobri que não”. Geeta destaca a ironia: a vida assistida é excelente se você não precisar de muita assistência. A vida social, as instalações semelhantes a spa, as inúmeras atividades e os menus atrativos tornam a vida assistida a escolha certa para quem tem recursos financeiros e é saudável e ativo. Mas se o idoso tiver problemas para caminhar ou usar o banheiro, ou algum tipo de demência, esse tipo de instalação não dá as respostas com quem todos sonham.

A falta de regulamentação é parte do problema. O governo federal fiscaliza os lares de idosos e os classifica quanto à qualidade, mas não licencia ou supervisiona instalações de vida assistida – são os estados que estabelecem as regras mínimas. Lares de idosos devem ter diretores médicos, mas esse requisito não é obrigatório na vida assistida e as queixas contra essas instalações tem aumentado nos tribunais americanos.

Os governos tem diversos programas de financiamento para residências desse tipo, mas ainda há uma lacuna de oferta muito grande e será um desafio enorme atender ao crescimento da demanda, com a chegada maciça dos baby boomers à velhice – o mais jovem dos quase 70 milhões de baby boomers americanos tem 55 ano, enquanto o mais velho está com 74 anos.

Pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida estabeleceram 39 palavras-chave e esquadrinharam os sites de serviços de saúde de todos os estados americanos em busca da informação fornecida ao público sobre a vida assistida. Comparando os resultados atuais com os obtidos em situação semelhante em outro estudo de 2005, constataram que aumento expressivo na oferta de conteúdo relevante: os relatórios de inspeção de qualidade exigidos pelo governo, que só apareciam em 15% das páginas, hoje estão em 70% delas. Mas ainda há muito a fazer: apenas em dois estados encontraram a informação sobre o preço cobrado nessas moradias assistidas.

Outro problema apontado pelos pesquisadores foi que os sites não são lá muito amigáveis. Os itens básicos podem ser encontrados facilmente, mas os detalhes sobre as residências individuais demandam uma pesquisa extensa. Em certos casos, não fica claro nem mesmo qual agência estatal supervisiona a vida assistida.

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