Em Tempo https://emtempo.blogfolha.uol.com.br Velhices, longevidade, superação Wed, 26 Aug 2020 17:32:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Medicamentos contra Alzheimer podem retardar envelhecimento https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/medicamentos-contra-alzheimer-podem-retardar-envelhecimento/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/medicamentos-contra-alzheimer-podem-retardar-envelhecimento/#respond Fri, 20 Dec 2019 11:27:54 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Salk_Institute2-320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=348 Dois medicamentos que vem sendo estudados para combater a doença de Alzheimer, que ainda nem tem nome – são conhecidos como CMS121 e J147 – foram testados em camundongos mais velhos e bloquearam os danos às células cerebrais que ocorrem normalmente durante o envelhecimento. Os medicamentos já tinham demonstrado capacidade de melhorar a memória e retardar a degeneração das células cerebrais em testes com os mesmos animais.

A pesquisa, realizada pela equipe do Salk Institute for Biological Studies, uma organização independente sem fins lucrativos sediada em La Jolla, na Califórnia e que reune seis prêmios Nobel, foi publicada no mês passado na revista eLife e indica que esses protótipos poderão ser usados no tratamento de outras condições. Antonio Currais, da equipe da Salk e autor principal do artigo reconheceu que tem sido neglicenciada a eficácia dos medicamentos anti-Alzheimer em relação ao combate ao envelhecimento.

Embora a velhice seja o maior fator de risco para a doença de Alzheimer – acima dos 65 anos, o risco de uma pessoa desenvolver a doença dobra a cada cinco anos, os pesquisadores ainda não sabem o que acontece no cérebro, exatamente, em nível molecular, para a doença de Alzheimer se instale.

O Salk Institute atua hoje em 54 países, tem 580 patentes e reúne seis prêmios Nobel. Começou a surgir em 1957, quando Jonas Salk, que já desenvolvera a primeira vacina segura e eficaz contra a poliomielite, decidiu criar um ambiente colaborativo onde os pesquisadores pudessem explorar os princípios básicos da vida e estudar as consequências de suas descobertas para o futuro da humanidade.

Ao lado da cidade de San Diego, num terreno de quatro hectares, o arquiteto Louis Kahn projetou um centro de pesquisa moderno e belo, nas palavras dele, ï uma instalação digna de uma visita de Picasso.” Com o apoio financeiro da Fundação Nacional / March of Dimes, o Instituto Salk de Estudos Biológicos abriu suas portas em 1963.
As principais áreas de estudo são envelhecimento e medicina regenerativa, biologia do câncer, biologia do sistema imunológico, metabolismo e diabetes, distúrbios neuro-científicos e neurológicos e biologia vegetal.

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Velhos estão bebendo mais e preocupam os médicos https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/11/velhos-estao-bebendo-mais-e-preocupam-os-medicos/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/11/velhos-estao-bebendo-mais-e-preocupam-os-medicos/#respond Sun, 11 Aug 2019 09:30:21 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/vodka-2713923__340-320x215.jpg https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=230 O consumo de álcool entre os mais velhos está aumentando em vários países – e os médicos insistem que é necessário encarar esse fenômeno como um problema grave e real, por conta dos efeitos sobre a saúde pública e dos idosos. O estudo mais recente, liderado pelo doutor Benjamin Han, do NYU Langone Health de Nova Iorque, foi publicado há poucos dias no Journal of the American Geriatrics Society.

Depois de entrevistar quase 11 mil idosos, os pesquisadores concluíram que mais de dez por cento (10,6% exatamente) tomam porres com frequência. O uso de álcool vem se tornando mais frequente entre os mais velhos: entre 2001 e 2013, os que beberam no ano anterior ao momento da pesquisa aumentaram em 22,4%, a maior elevação entre todas as faixas etárias. O aumento no chamado consumo de alto risco foi de 65,2% e chegou aos 106,7 % no transtorno do uso de álcool entre adultos com 65 anos ou mais.

A Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, uma divisão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos prevê que o número de americanos com mais de 65 anos que abusam de drogas e álcool deve chegar aos 5,7 milhões no ano que vem – o dobro em relação ao número de 2006.

O programa de álcool do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA estima que o consumo excessivo de álcool custa ao país cerca de 249 bilhões de dólares e contribui para cerca de 88.000 mortes anualmente. Problemas crônicos de idosos, como a hipertensão arterial são agravados pelo abuso de bebida. Um jovem de 21 anos sofre uma queda e muitas vezes pode se recuperar facilmente. Um velho de 81 anos corre risco de morte na mesma queda – que a perda de equilíbrio provocada pelo álcool acarreta. De modo geral, um corpo envelhecido tolera menos o álcool.

Os médicos avaliam também que, por não verem seus pacientes idosos como bebedores compulsivos, podem estar deixando de fazer as perguntas certas quando estes relatam quedas frequentes e outros transtornos relacionados ao consumo de álcool.

Alguns dados globais, da Organização Mundial da Saúde, mostram que há uma enorme parcela da humanidade que costuma beber – mas não a maioria: em 2016, mais da metade (57% ou 3,1 bilhões de pessoas) da população global com 15 anos ou mais se abstivera de beber álcool nos últimos 12 meses, enquanto cerca de 2,3 bilhões de pessoas eram bebedores atuais. O álcool só é consumido por mais da metade da população em três regiões – Américas, Europa e Pacífico Ocidental. Na África, Américas, Mediterrâneo Oriental e Europa, a porcentagem de bebedores diminuiu desde 2000.

O consumo total de álcool per capita na população mundial com mais de 15 anos de idade subiu de 5,5 litros de álcool puro em 2005 para 6,4 litros em 2010 e ainda estava no 6,4 litros em 2016. Os níveis mais elevados de consumo per capita de álcool foram observados em países da Região Europeia da OMS. Um quarto (25,5%) de todo o álcool consumido em todo o mundo nem entrou nas estatísticas nacionais – foi produzido à margem do mercado formal.

Em Portugal, o consumo médio de bebidas alcoólicas é de 146 gramas por dia, ou um copo e meio de vinho. Homens bebem mais que mulheres e os idosos mais que os adultos. O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, da Universidade do Porto, apresentado em março do ano passado revelou que acima dos 65 anos 5% dos idosos bebiam diariamente mais de 1 litro (1142 g) de bebida alcoólica. O vinho era a bebida mais consumida. Em 2015 viviam em Portugal 2,1 milhões de idosos, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Ou seja, 105 mil idosos tinham este consumo excessivo.

No Brasil, uma pesquisa DataFolha realizada em setembro de 2017 mostrou que quase um em cada dez homens idosos brasileiros (9%) bebia todos os dias, cinco vezes a média do país (2%) e o dobro do percentual de beberrões (4%). Entre as idosas, 81% não bebiam, contra 57% dos idosos, o que confirma a tendência na população em geral de as mulheres serem menos expostas ao álcool que os homens (63% delas não bebem, contra 6% dos homens). A faixa etária que mais consumia álcool regularmente estava entre os 25 e os 34 anos – 57%. Até os 54 anos, os que admitiram ter o costume de beber era mais de 40%, Dos 55 aos 59 o percentual cai para 39%, diminui para 29% na faixa seguinte (60 anos ou mais) e para 17% acima dos 80 anos. O DataFolha ouviu 2.732 brasileiros maiores de 16 anos no dia 3 de setembro de 2017.

Kumar Dharmarajan, um geriatra e diretor científico da Clover Health de San Francisco, na Califórnia, reuniu quatro dicas para os maiores de 65 que não pretendem se afastar definitivamente todos os cálices (alcoólicos):

1. Aprecie com moderação . O NIAAA – National Instituto of Álcool Abuse and Alcoholism – recomenda que inclusive ps adultos com mais de 65 anos, saudáveis e que não tomam medicamentos limitem seu consumo de álcool a não mais do que três doses em um determinado dia e não mais do que sete doses por semana.

2. Verifique seus medicamentos. Quase metade dos adultos entre 70 e 79 anos usam cinco ou mais medicamentos sob prescrição para tratar doenças crônicas, cada uma com interações medicamentosas únicas. Além disso, vários medicamentos mais comuns, incluindo xarope para tosse e certos medicamentos para alergia, podem ser perigosos se misturados com álcool. Consulte seu médico sobre se o consumo de álcool é seguro com base em seus medicamentos.

3. Se beber, não dirija mesmo. À medida que envelhecemos, nossa tolerância ao álcool diminui. Para os idosos, os efeitos do álcool são percebidos mais rápida e intensamente, especialmente se estiverem tomando certos medicamentos. Uma única dose pode afetar a capacidade de adultos com 55 anos ou mais de dirigir com segurança. 

4. Ajude o outro. Com o abuso de álcool se tornando cada vez mais comum entre os idosos, muitos influenciados pela solidão, o tédio e a aposentadoria, ajuda pode ser muito importante. Grupos de apoio como AA ou terapia ambulatorial também podem contribuir nessa batalha.

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Alzheimer: cura continua distante, apesar dos avanços https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/alzheimer-cura-continua-distante-apesar-dos-avancos/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/alzheimer-cura-continua-distante-apesar-dos-avancos/#respond Wed, 24 Apr 2019 09:20:53 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/256px-PET_Alzheimer-256x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=105  

Boas e más notícias envolvendo um dos maiores fantasmas que rondam o envelhecimento: o mal de Alzheimer. Comecemos pela boa – até mesmo atividades físicas leves, como lavar a louça, varrer a casa ou arrumar o quarto, podem ajudar a manter o cérebro jovem. Uma equipe internacional de pesquisadores acompanhou pelo menos três dias de dados de rastreadores de atividade de 2.354 adultos de meia-idade em Massachussets, nos EUA, juntamente com as imagens cerebrais dos participantes. Levando em conta fatores como sexo, tabagismo e idade, a equipe descobriu que cada hora de atividade física leve por dia está ligada a um volume cerebral maior em 0,22%, o equivalente ao que o cérebro perde durante um 1,1 ano, depois dos 60 anos de idade. Quem dá dez mil passos por dia – uma caminhada de sete quilômetros – tem um aumento do cérebro maior que os que dão cinco mil passos ou menos. A perda ou encolhimento do tecido cerebral estão ligados à demência. Os dados foram originalmente publicados no Jama Network Open, um site de informação científica reconhecido e de acesso aberto.

Ou seja: o estudo toma cuidado, cercando essas informações de alguns condicionantes, mas a conclusão é clara e pode ser traduzida assim, num blog generalista: vale se mexer, mesmo que você não queira ser um ás da ginástica ou um maratonista.

Revigorados, portanto, vamos às más notícias. Duas grandes empresas, a suiça Biogen e a japonesa Eisai abandonaram os testes que faziam em parceria com aducanumab, uma proteína especialmente desenhada para combater as placas que estão associadas à progressão do mal de Alzheimer. As ações da Biogen caíram 29 por cento, antes mesmo dos detalhes do estudo virem a público. O primeiro teste com uma abordagem semelhante havia fracassado há mais de dez anos, Grandes companhiar, como Eli Lilly e Pfizer desistiram do jogo, mas segundo uma pesquisa feita pela Translational Research and Clinical Intervention, em setembro de 2017, existiam 105 novos medicamentos sendo desenvolvidos contra o mal de Alzheimer. Mais da metade não focavam as tais placas que o aducanumab reduz.

Existem hoje mais de 44 milhões de pessoas em todo mundo com o mal de Alzheimer.Uma doença específica, identificada pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1907 e que só é efetivamente comprovada se e quando o cérebro do paciente for submetido a uma autópsia.

Há outros dados na fronteira de boas e más notícias. O médico Ricardo Nitrini, professor titular de Neurologia da Universidade de São Paulo e editor-chefe da revista Dementia & Neuropsychologia, que entrevistei para a série de documentários sobre velhice que estou produzindo no momento diz que há mais prevalência de demência no Brasil do que em países mais desenvolvidos por causa do nível de educação do povo. Nos Estados Unidos, as pesquisas avaliam pessoas com 16 anos de estudo em média, enquanto os brasileiros tem quatro anos de escolaridade em média:

“Os estudos neuropatológicos demostram que, para o mesmo grau de doença cerebral analisada no cérebro por microscópio, a demência é mais grave, ou aparece nos indivíduos de baixa escolaridade, antes do que nos indivíduos de alta escolaridade. Por que? Uma das hipóteses é a seguinte: o indivíduo de alta escolaridade tem um repertório de soluções para uma questão que o indivíduo de baixa escolaridade não tem. O indivíduo de baixa escolaridade, por exemplo, se lhe falta uma palavra, quando ele está conversando, é muito difícil que ele use sinônimos. Ele tem uma certa dificuldade, ele não tem um repertório. Estou dando um exemplo bem simples. Mas não é só para isso, para tudo que o indivíduo vai fazer, ele precisa ter estratégias para resolver – e quem estudou mais, tem mais alternativas. Os médicos muitas vezes escrevem para o paciente, coisas assim: ‘Tome esse comprimido uma hora antes do almoço. E duas horas depois do jantar’. E entrega para o paciente. Nós fizemos um teste: entregávamos um remédio com a prescrição onde estava escrito: ‘Tome um comprimido antes do almoço.’ Daí, perguntávamos: ‘Se você for almoçar ao meio dia, que horas você deve tomar o comprimido? E se você for jantar às 19 horas, que horas tomaria?’ E as pessoas se perdiam completamente, porque não eram capazes de ler”

Moral da história: educação é remédio… até para o mal de Alzheimer.

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Livro revela limites e possibilidades do sexo na velhice https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/19/sexo-na-velhice-agora-em-livro/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/19/sexo-na-velhice-agora-em-livro/#respond Fri, 19 Apr 2019 10:24:51 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/foto-Una-19-320x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=99 Câncer de próstata, que me deixe impotente.Seria o equivalente à morte para mim”. J, publicitário, 63.

Medo de perder a libido, medo de ficar seca, medo de não ter mais tesão.Muito real. Muito”. Melita, jornalista, 55.

Eu não tenho fantasia nenhuma. Já me entreguei e não sinto tesão nenhum. Sinto falta de um parceiro, mas não encontro. Os homens da minha faixa de idade querem meninas novas, eu tenho preconceito com homens mais jovens do que eu. Também não consigo me masturbar, então estou broxada”. Miriam, bancária, 56.

Solidão real é punheta”. Zé, motorista de Uber, 63.

Estas são algumas respostas a uma das treze perguntas que a jornalista Tania Celidonio apresentou a centenas de pessoas, brasileiros e brasileiras, quase todos de classe média, via internet, garantindo o anonimato aos que topassem responder. A questão específica no caso era “Quais são os fantasmas da velhice? E o que é real, mesmo que fantasmagórico?”

Duzentas e cinquenta pessoas – a maioria mulheres – responderam ao questionário, que virou um livro, Mistérios da Libido na velhice, editado pela própria autora e disponível eletronicamente nas boas lojas do ramo por 12 reais.

Tania Celidonio é paulistana, mas mora no Rio. Depois de flertar com a História e a Música, como ela própria diz, foi repórter e editora, nas rádios Globo, Eldorado e TV Cultura, além de roteirista, editora e diretora de programas em diversas produtoras. Teve um blog sobre cinema e por seis meses, resolveu investigar um universo pouco noticiado: o sexo na velhice.

O grande mérito de Tania é não ter ido além do que poderia, com um painel necessariamente parcial e impressionista. Ela própria admite a limitação: “O objetivo nunca foi realizar uma pesquisa científica, quantitativa ou qualitativa. A meta era reunir um número considerável de pessoas que se dispusessem a refletir sobre o passado e o presente de suas relações afetivas, amorosas e sexuais.”

O material coletado pode virar uma peça de teatro agora. São quatro atores e pequenos monólogos. Tania informa que está em busca de um diretor ou diretora.

As respostas selecionadas para o livro mostram que há sim, sexo na velhice e que ele continua sendo complicado, prazeiroso, diverso e intenso. Registram ainda que muita gente prefere relembrar os bons tempos que não voltam mais do que enfrentar o desafio da experiência nem sempre exitosa e chegar ao prazer.

Maria de Paula Oliveira, empresária, 64 anos (nomes são todos fictícios) resume a história: “A velhice acalma o sexo”. Sentido oposto tem a experiência de Rosângela, publicitária, um ano mais velha: “A qualidade do sexo é melhor agora”. Maria, dona de casa, 71 anos, admite: “Eu quero sempre mais, mas não tenho. Gosto de garotos, gosto muito do belo, mas o medo não deixa”.

Muitos depoentes parecem ser absolutamente francos. Isabela de Marco, jornalista, 57, assegura: “Perdi a libido aos 36 anos. Nunca mais me interessei por sexo e muito menos por romances”.

A Aids é uma espécie de sinal vermelho na avenida da liberação sexual, em que boa parte dos depoentes trafegava. “Para mim foi nos anos 1980, em plena juventude. Era um tempo mágico.Talvez por não existir tanta tecnologia. A gente corria perigo. Pra se ter uma ideia, eu nunca transei com camisinha, não sei o que é isso. E bem quando a Aids fazia suas primeiras vítimas.” Isabela de Marco, jornalista, 57.

Vivi num segundo round após a primeira separação, no fim dos anos 1970. Casamento aberto, muitas separações, relacionamentos rápidos e intensos, até chegar a Aids”. Angelo Alcântara, cineasta, 65 anos.

Minha geração deu de cara com a Aids e todos ficaram mais caretas e reticentes. Mesmo assim, muitos de minha idade passaram a ter uma relação mais aberta entre namorados e

família, por exemplo”. Quase Sessentão, artista gráfico, 59

No campo da memória, há lembranças tórridas, mas nem só:

Minhas lembranças são com o meu marido. Se não tivesse relação com ele, ele iria procurar outra pessoa. Então o jeito foi ter”. Luar, dona de casa, 57.

Não tenho boas lembranças, achava que sexo era pecado. Quando beijei pela primeira vez na boca, achei que tinha engravidado. Tinha 16 ou 17 anos. Uma fase de muita repressão, pecado, proibições”. Maria, documentarista, 70.

E o que essa gente trouxe do passado?

A minha masculinidade por demais machista de só pensar no meu orgasmo em primeiro lugar. O delas ficava pra depois.” Joel, ator, 81

Não trago nada. Não gosto de lembrar. As pessoas seguem mentindo”. Isadora Duncan, jornalista, 66

Tenho a noção exata do que se sente ao fazermos sexo sem amor, sexo pelo sexo e o sexo com amor. Sentimentos e sensações absolutamente diferentes”. Amaranta, roteirista, 68.

Para encerrar um exercício, que o autor deste blog propôs à própria Tania ( ela recusou, dizendo que já se expôs demais ao longo da vida): responda às perguntas que seguem abaixo, imaginando que a resposta não seja anônima, mas pública. Dá para falar a verdade ou é melhor fazer como Tania e fugir da raia?

1- Quando você pensa em sexo e relações sexuais no presente as lembranças da juventude parecem muito distantes?

2- A liberação sexual dos anos 1960, 1970 e 1980 provocou muitas transformações pessoais e nos relacionamentos. Você viveu isso?

3-Quais são as lembranças das suas relações afetivas e sexuais na juventude? O que foi mais importante nessas relações?

4- Quais são as experiências da juventude que você trouxe para os dias de hoje?

5- Quais são os fantasmas da velhice? E o que é real, mesmo que fantasmagórico?

6- O que você trouxe da sua juventude para o sexo de hoje? E o que você deixou para trás e não tem saudade?

7- Você acha que na velhice os homens encontram parceiras ou parceiros sexuais com mais facilidade que as mulheres?

8- Ficar velho (a) é uma maneira de se livrar da obrigação de fazer sexo?

9- Ser casado é um estímulo para fazer sexo na velhice? E ser solteiro?

10- Existe um jeito especial de estimular o desejo sexual na velhice?

11- Você usa algum “aditivo”antes ou durante suas relações sexuais?

12- De que forma o sexo afeta as suas relações, seja com parceiros(as) ou outras pessoas em pleno processo de envelhecimento?

13- Como é a sua vida sexual? Você transa com frequência? Sente falta ou vontade de transar mais

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É hipocrisia entregar só à família a missão de cuidar dos idosos https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/05/e-hipocrisia-entregar-so-a-familia-a-missao-de-cuidar-dos-idosos/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/05/e-hipocrisia-entregar-so-a-familia-a-missao-de-cuidar-dos-idosos/#respond Tue, 05 Mar 2019 10:30:51 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/1800224-320x215.png http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=55 Quando eu era garoto, minha avó foi morar numa casinha que meu pai construiu no amplo terreno num subúrbio paulistano. Ela tivera um derrame e já não podia morar sozinha. Naquela época,1960, havia 3,3 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais – representavam 4,7% da população. Em 2000, já eram 14,5 milhões, ou 8,5% dos brasileiros nessa faixa etária. Em 2010, os idosos chegaram a 20,5 milhões, ou 10,8% da população. Se eu chegar aos 90 anos, em 2042, ainda verei um país com 25% da população acima dos 65 anos, estima o IBGE.

Poucos países estão vivendo esse processo nessa velocidade. Nosso envelhecimento é duas vezes maior que a média mundial e nos coloca entre os 12 países que estão envelhecendo mais rapidamente.

É uma boa notícia? É. Viver mais é uma conquista, principalmente para quem tem saúde. Mas é também um enorme desafio. Teremos menos jovens para sustentar os mais velhos. E o cobertor vai ficar cada vez mais curto.

Pela lei, cumpre primeiro às famílias (e só depois ao Estado) garantir a sobrevivência dos mais velhos. E nossas famílias tem menos filhos, as mulheres já entraram para o mercado de trabalho, não se conformam mais (justamente) em ficar em casa. Se meus pais fossem vivos e incapazes de viver de modo independente, fico pensando qual dos filhos cuidaria deles.

Só um por cento dos idosos vivem nas chamadas instituições de longa permanência, o que costumamos entender como asilos e assemelhados. A economista Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea e coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, que entrevistei não faz muito, resume a situação assim: “O idoso frágil, pessoas com o grau mais elevado de dificuldade na vida diária, aquele que não vai ao banheiro sozinho, que não come sozinhos, que não toma banho sozinho, constitui em torno de 15% da população idosa – quase 4 milhões de brasileiros. Mas não há nenhuma política específica para esse grupo. Cerca de cem mil moram em asilos ou casas de repouso. Quer dizer: são as famílias que estão cuidando ou descuidando dos outros 3,9 milhões. Sem nenhuma ajuda. É claro que o governo não tem condição de botar todo mundo no asilo, mas tampouco ajuda as famílias que cuidam de seus idosos. E por isso, muitas mulheres, pois geralmente são as mulheres que assumem essa tarefa, têm que deixar o trabalho para poder cuidar ou do marido ou do pai.”

Perguntei a Ana se o Estatuto do Idoso não resolveria esse impasse. Resposta da economista: não, pois embora o Ministério Público deva fiscalizar, é fácil burlar as regras e deixar nossos idosos abandonados nas instituições. Pior ainda: é possível ao Estado criminalizar a família que abandona seu idoso. Mas quem criminaliza o Estado, por não dar ajuda a essas famílias todas?

A psicóloga Anita Liberalesso Neri, 72 anos, psicóloga e professora da Unicamp, usa uma palavra forte para definir a insistência em entregar para a família a missão exclusiva de cuidar de seus idosos: hipocrisia: “Existe uma hipocrisia no sentido de não admitir que muitas famílias não tem condição financeira, não tem nem número de pessoas, na medida em que as novas gerações são cada vez mais rarefeitas, que as famílias são cada vez mais verticais. A grande família é cada vez mais uma fantasia. Muitas doenças que hoje são mais correntes nas estatísticas, como as demências tipo Alzheimer eram eventos raros no passado. As pessoas ficavam pouco tempo doentes, morriam logo. Então, atribuir os cuidados aos idosos só às famílias é não querer enxergar a realidade. O ideal seria que as famílias fossem coadjuvadas por serviços auxiliares: atendimento domiciliar, pois o velho não precisa ficar internado para sempre, abandonado numa instituição, onde nunca mais ninguém vai visitar, não é isso”.

Anita Neri ressalta que muitos idosos precisam de atendimento contínuo, desde o apoio mínimo, quando ainda estão aptos e podem ser ajudado dentro de casa, até os que não podem mais se cuidar sozinhos. “Em todas as culturas, uma das decisões mais difíceis da família é de institucionalizar os idosos. Existe toda uma questão de apego de tradição, é muito complicado tomar essa decisão. Eu não estou dizendo ‘largar’, ‘jogar’, que são verbos altamente pejorativos, carregados. Institucionalizar, internar por absoluta necessidade, é muito difícil. Aqui no Brasil, é também extremamente caro, para quem pode pagar, as Instituições estão se tornando mais numerosas e mais variadas quanto a oferta. Mas elas são insuficientes. As que não são pagas, para aqueles que são mais pobres, são absolutamente insuficientes. Mas na base tudo existe uma ilusão e uma hipocrisia, de que é uma família e, se ela não faz isso, ela é ruim. A família é a vilã, o velho é sempre a vítima, ele pode não ser. Ele pode ser doente, mas ele pode ter sido também um velho abusador e o que ele pode esperar dessa família de quem ele foi abusador, com quem ele não estabeleceu laços, com os filhos, com uma filha, com a nora”.

 

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Fui abastecer, achei que era Alzheimer https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/fui-abastecer-achei-que-era-alzheimer/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/fui-abastecer-achei-que-era-alzheimer/#respond Thu, 21 Feb 2019 23:20:53 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Alois_Alzheimer_003-300x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=45 Aconteceu nas últimas férias de verão, aqui em Portugal. Netas, filho e nora para a praia, não cabiam num carro e alugamos dois. No volante de um deles, vi que era preciso abastecer – o outro tinha combustível suficiente. Como qualquer consumidor na Europa, liguei a bomba, coloquei a mangueira no bocal do tanque e fiz o serviço que no Brasil, cabe aos frentistas. Tanque cheio, conta paga, arranquei. Menos de um quilômetro depois, pimba! Pane no motor. Foi quando me dei conta da besteira: enchera o tanque do carro a gasolina com gasóleo, ou diesel para nós. As duas bombas ficam lado a lado e na correria e excitação, misturei as bolas.
Liguei para a locadora e informei o ocorrido. Disseram que iam mandar um reboque e um táxi. As “meninas” seguiram para a praia num carro, enquanto eu e meu filho acompanhamos o outro até o páteo de recolha dos carros avariados, de onde o táxi nos levou até a locadora. Ali, para nosso desencanto e desespero, ficamos sabendo que o seguro não cobria meu erro, classificado de “negligência”. Teria de alugar outro carro e pagar o prejuízo – uma nota. Tentei a saída brasileira – o jeitinho. E se eu consertasse o carro? O atendente disse que ninguém havia tentado antes e que nesse caso, o problema seria nosso.
Voltamos ao pátio, conseguimos uma empresa especializada em trocar combustível ( a negligência é frequente, pelo visto) e horas e algumas centenas de euros mais tarde, chegamos à casa alugada.
Na volta, o carro que nos levara até lá sem problemas deu pane e foi rebocado até a locadora. Parece que a troca de combustível não resolveu tudo e ao abastecer novamente, agora com gasolina, o motor deu problema. No dia seguinte, fui devolver o outro carro. Tanque vazio, parei no posto, olhei duas vezes para as bombas, antes de abastecer. Alguns metros adiante, outra pane no motor. Estava tão certo de ter colocado gasolina que caminhei pela margem da autopista, arriscando a vida, até alcançar o posto e me dar conta de que enchera com gasóleo, mais uma vez. Moral da história – um prejuízo enorme, que destruiu o planejamento financeiro das férias e dos meses seguintes.
Pior foi a conclusão a que cheguei: só podia ser Alzheimer. Já havia começado as pesquisas para os documentários sobre envelhecimento, que levaram a este blog, mas ainda não entrevistara nenhum especialista. Esperei ansioso pela consulta com minha médica de família, aqui em Lisboa. A jovem doutora ouviu minha história e depois de conter o sorriso, fez várias perguntas:
– Sabe o nome dos seus filhos? Sabe onde mora? Lembra o nome de objetos de uso comum?
Diante das respostas afirmativas, dispensou qualquer exame mais complicado e receitou um remedinho para a memória. De volta ao Brasil, a jornalista Claudia Erthal, que divide comigo a direção da série Envelhecer, ainda em produção, foi conversar com a médica Claudia Suetomo. Professora doutora da Disciplina de Geriatria da FMUSP, ela é pesquisadora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da FMUSP e do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Em seu doutorado, pesquisou a associação entre fatores de risco cardiovascular e demência.
Claudia explicou que por volta dos 30 anos, todos começamos a perder neurônios, sem reposição. Diminui também a complexidade das comunicações entre os neurônios que se assemelham a árvores que vão perdendo os galhos – a rede dendrítica, na terminologia científica.
Assim, ao envelhecermos, vamos ficando mais lentos, temos mais dificuldade de aprender. É por isso que nossos netos (ou filhos) são capazes de descobrir como funcionam as novas bugigangas eletrônicas que nos tiram a paciência.
“Eu até brinco com os alunos aqui, eles conseguem fazer quatro coisas ao mesmo tempo. Eles conseguem prestar atenção na aula, responder um e-mail, depois ver um twitter e ainda falar com o cara do lado e tá tudo bem. Quando a gente fica mais velho, não fica tão rápido pra fazer quatro, cinco coisas ao mesmo tempo. Temos de ter o discernimento de fazer uma coisa de cada vez pra fazer bem feito.”
Alzheimer é uma grande ameaça. É um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Nas fases iniciais, manifesta-se muitas vezes por lapsos de memória e dificuldade de encontrar as palavras certas para objetos do cotidiano. Seu diagnóstico é complexo e só se torna efetivo com a autópsia do portador. Quem resolve colocar as bombas de gasolina e gasóleo lado a lado e empoderar os consumidores, eliminando os frentistas, talvez não saiba disso.

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Ainda dá tempo https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/19/ainda-da-tempo/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/19/ainda-da-tempo/#respond Tue, 19 Feb 2019 05:00:36 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/IMG-20190218-WA0008-320x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=34 Aprendi uma boa lição com Edmea e Francisco. Ela tem 71 anos, ele 74. Moram em Santos e são aposentados. Estão juntos há 26 anos e na agenda do casal, tempo livre é raridade. Toda segunda cedo, Edmea tem aula de violão. Almoça às pressas, para chegar na hora do ensaio das cantoras do rádio, um grupo de idosas que dublam e interpretam Marlene, Emilinha, Aracy de Almeida, Angela Maria e outras estrelas da canção brasileira. Edmea tem 40 vestidos só para as apresentações em escolas, asilos, onde forem chamados.

Terça cedo, ela veste o maiô, apanha a prancha e vai para a praia. O casal pratica o surfe há 14 anos e faz parte de um grupo de idosos que tem aulas todas as terças, das oito às dez da manhã. Mas não é só. Nas quartas, tem aulas de dança, para afinar a coreografia do espetáculo que apresentam em asilos, escolas – onde forem convidados.

Chico entrou nessa onda mais tarde, depois de muita insistência dela, e hoje interpreta Francisco Petrônio no espetáculo. Tem três ternos iguais aos do cantor. Quintas, sábados e domingo, os dois voltam ao surfe, quando não há espetáculo.

Eles nem imaginam outra vida. Diz Edmea: “Eu não gosto nem de pensar nisso, viu, porque eu acho que seria uma tristeza. Já pensou, os dois velhos dentro de casa, um olhando pra cara do outro? Fazendo palavrinha cruzada ou eu fazendo lá crochezinho? Não, não. Tem, a gente tem que procurar atividade, né.” Edmea e Chico ainda procuram algo para fazer nas sextas. (Santos, garante o casal, tem muita atividade gratuita para idosos)

Edmea e Chico me fizeram retomar um sonho antigo, inútil: aprender a esquiar. Há uns dez anos ou mais, numa estação na Argentina, tive aquela aula rápida feita para engambelar turista e achei que estava pronto. No teleférico, vi o bastão do meu filho, então no esplendor dos18, cair das alturas. Ao chegar ao topo, só tive tempo de gritar inutilmente, para que ele não se rendesse à sofreguidão da juventude, descendo a pista preta destinada aos mais experientes, em busca do tal bastão.

Preocupado com ele, fiz exatamente a mesma coisa, para descobrir, segundos mais tarde, que não era incapaz de ficar em pé sobre os esquis naquela pirambeira. Muitos tombos adiante, o ar rarefeito cobrou seu preço para minha velha arritmia. Sentei sobre a neve e vi desfilar por meus olhos cenas de filmes de desastres, avalanches, soterramentos.

A muito, muito custo, arrastei-me até o ponto onde consegui apanhar o teleférico de volta. Arquivei neve, esquis e bastões entre as fantasias irrealizadas.

Pois graças a Edmea e Chico, tive as primeiras aulas na Serra da Estrela, que parece feita para iniciantes com suas descidas suaves e sua neve ligeira. Nenhum tombo e o elogio do Mancha, um instrutor que parece saído de um desenho animado: “Mandou bem, mandou bem…”

Jamais serei um esquiador. Edmea ou Chico não são capazes de enfrentar as ondas gigantes de Nazaré. Mas estamos, eles e eu, cumprindo um padrão que Alexandre Kalache, especialista no assunto, resumiu assim: Você envelhece refletindo o que sempre foi. Você não vai se tornar uma pessoa completamente diferente, embora você possa se redescobrir, se reinventar. Eu acho que muita gente que tem um envelhecimento bem sucedido, não é bem sucedido financeiramente. É exatamente aquela pessoa que redescobre, que se reinventa e de repente se aposenta e vai pensar em outras atividades que talvez ele sempre tenha querido fazer e não podia, porque não tinha tempo, mas agora talvez tenha tempo, experiência, talvez até recursos e ele vai poder se liberar, coisa maravilhosa! Você não tem mais diretor. Você não tem mais chefe. Você dá o chute no balde! E isso é maravilhoso, porque nós estamos vivendo uma revolução da longevidade. Você quando chega aos 45, você está na metade da sua vida, você ainda tem a outra metade. Eu sempre digo: Se você puder, aos 45, faça um ano sabático. Vai para a Ilhabela, Machu Picchu, Nepal, vai pensar na vida. Vai pensar o que você quer fazer com essa segunda metade da sua vida?” Aí você volta com energia, renovado. Antes eu era médico, agora eu quero ser sóciologo…, sei lá, jornalista…

Ou esquiador amador…

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NOMENCLATURA https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/15/nomenclatura/ https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/15/nomenclatura/#respond Fri, 15 Feb 2019 04:00:40 +0000 https://emtempo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/dictionary-390027_640-320x215.jpg http://emtempo.blogfolha.uol.com.br/?p=25 Antes de seguir com o blog, vale tratar da terminologia. Há um punhado de termos usados no lugar de velhice. Que vem do latim vetus, “velho, idoso”, literalmente “do ano anterior”. A partir de uma fonte Indo-Europeia, wetos, que tem a ver com “anoso” isto é, “com anos, entrado em idade”.
As tentativas de emplacar outros termos incluem terceira idade, melhor idade, anos dourados. Para a série de documentários Envelhecer, que estou preparando para o SESCTV, conversei com especialistas da área, mas não encontrei nenhum defensor desses supostos sinônimos.
Alexandre Kalache, epidemiologista especializado no estudo do envelhecimento, co-presidente da Aliança Global de Centros de Longevidade Internacionais: “Melhor idade não existe. É aquela que você tem seja qual for e o que você tem qualidade de vida, que você possa estar independente, que você tenha autonomia, são dois conceitos diferentes, independência, você realizar atividades do dia a dia sem uma ajuda imediata para comer, para escovar o dente, para fazer um pagamento. Autonomia, não, você pode estar dependente numa cadeira de rodas, você pode ter problemas físicos locomotores, o que seja, mas você vive a sua vida de acordo com suas regras, com os seus desejos. E autonomia é muito mais nobre do que a independência, você pode estar aqui numa cadeira de rodas, mas você determina a que horas você vai comer, a que horas você vai sair, você mantém a vida de acordo como você quer. E de repente você pode acabar numa instituição em que a hora de comer está pré-determinada, você não pode mais decidir quando vai sair ou voltar, a que horas vai dormir, se vai ler até mais tarde, que eu ver TV ou fazer um Skype com meu filho que mora em Londres às dez da noite.
Beltrina Corte, jornalista e professora, coordenadora do grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação também torce o nariz para os eufemismos. Acredita que melhor seria aceitar a realidade, os cabelos brancos, as rugas, um corpo mais quadrado e ter orgulho em vez de vergonha, como aconteceu com as feministas: “Falta pra nós termos orgulho de sermos velhos. Os velhos não têm orgulho de ser velhos. Pra mim é indiferente o termo, terceira idade, quarta idade, mas essa ojeriza, essa forma de se afastar cada vez mais, esse nosso processo de finitude, leva as pessoas a inventarem outros nomes. Sinceramente, acho que a gente tem que assumir a velhice e dizer eu sou velha e trabalhar esse preconceito em relação à nomenclatura”.
Ana Claudia Quintana Arantes, médica, formada pela USP com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP e pós-graduada em Psicologia tem se dedicado aos cuidados paliativos. Acha que por trás desses termos está a indústria da autoajuda, que quer apagar a sensação de fracasso. Missão impossível: “A gente tem uma coleção de situações e de coisas que dão errado e a gente não aprende a lidar com o que dá errado. E a gente busca, de uma forma muito inocente, a questão de dar certo. Mas o que é dar certo, qual é o pulo do gato? Se você aprender a perder, você nunca tem fracasso. Porque você vai entender que a sua perda faz parte do seu aprendizado, você estará preparado pra perder. E aí é totalmente diferente de experimentar fracasso. Fracasso é quando você tinha certeza que você ia ganhar e você perde, você não sabe lidar com essa perda. Aí, você fracassou. Agora, se você estava lutando pra ganhar e você perdeu, mas você fez o melhor que você podia, isso não é fracasso”.
A psicóloga Anita Liberalesso Neri, da Unicamp, atribui a criação do termo terceira idade a uma tentativa de negação: “É um eufemismo. Felizmente cresce o número de idosos ou quase idosos que tem crítica com relação a esse rótulo como: “melhor idade”, ou outro: “idade dourada”, e outros parecidos. Esse rótulo foi cunhado no bojo de um movimento que tentava aumentar a probabilidade de que os idosos se cuidassem. As pessoas foram responsabilizadas pelo seu próprio envelhecimento. A gente escuta muitas coisas, às vezes mimetizando palavras de outras línguas, por exemplo “adulto maior”, no sentido de que ele é maior porque ele é o maioral, ele é o melhor, não, as pessoas tomaram do espanhol essa expressão pra significar o que ela não significa, né. Velhice é a última etapa do ciclo vital, você envelhece a partir do momento que você amadureceu sexualmente. Se o ser humano fosse importante apenas em termos biológicos, ele morreria logo depois de deixar de procriar. A cultura criou a velhice. E criou uma velhice cada vez mais longa. Hoje muitas pessoas tem uma grande chance de passar uma parte substantiva de sua vida, maior muitas vezes que a vida adulta, como idosos, do que como adultos. É uma grande conquista da humanidade, uma grande conquista da cultura. Mas não tem melhor idade, maior idade, etc… etc… Velhice, e pronto.”

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